Com uma média de setenta apresentações anuais ao redor do mundo, o virtuoso multi-instrumentista ainda encontra tempo para se dedicar a alguns hábitos. Um deles é escutar discos de novos músicos e responder aos autores com observações sobre cada faixa. O outro é mais peculiar: fazer aplicativos para computadores Apple. Ele mesmo desenvolveu o programinha que usa para organizar seu vasto catálogo musical e, com base em planilhas, calcula quanto um disco precisa vender para pagar seu processo de produção. O interesse por tecnologia tem mais de vinte anos e está sempre associado à música. Na apresentação de sexta (7), no Theatro Municipal, Gismonti não vai recorrer à informática. Apenas o piano, posicionado bem perto do fosso, o acompanha.
Há quanto tempo um concerto seu nesse formato não acontece no Rio? O piano-solo é muito comum nas minhas turnês pela Europa e pelo Japão, mas aqui já tem muito tempo. Na verdade, nem me lembro se já fiz um concerto assim aqui alguma vez, sem acompanhamento de orquestra. Minhas últimas apresentações foram ao lado do meu filho, Alexandre, ou da orquestra Corações Futuristas.
Você não tem site. É alheio às tecnologias?
Mexo com Macintosh há mais de vinte anos, já fiz até alguns aplicativos de indexação de música e para o cálculo dos custos de produção de disco. Faço de brincadeira, não é nada sério. Já tive site, mas as redes sociais não me atraem. Aqui em casa quando chega um amigo peço que desligue o celular. Não é possível que a pessoa não tenha duas horas para dedicar à sua vida.
E, em show, como lidar com barulhinhos indesejados? É uma situação chata, mas não brigo com a plateia por causa de uma pessoa. Tenho muita consideração por aqueles que vão assistir ao meu show, foram eles que tornaram possível minha carreira ao longo de quarenta anos. Aconteceu recentemente, em Belo Horizonte. Acho que a dona do celular ficou tão nervosa que até demorou mais a desligar. Quando terminei de tocar, elogiei a música dela, mas disse que aquele era o momento de ouvir a minha música.