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Transcarioca torna-se a maior trilha urbana do Brasil

Trajeto de 180 quilômetros que conecta a Barra de Guaratiba ao Pão de Açúcar pela mata é uma opção de lazer para esportistas

Por Carolina Barbosa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 fev 2017, 12h00 - Publicado em 4 fev 2017, 12h00

Durante a década de 80, quando trabalhava como comissário de bordo da extinta Varig, o diplomata Pedro da Cunha e Menezes, à época com bastante tempo livre durante a semana, dedicava-se a explorar as trilhas cariocas enquanto a maioria dos seus amigos trabalhava em escritórios. A bordo dos velhos Electras que faziam a rota Rio-São Paulo em baixa altitude, ele sentava-se à frente da janela da cabine e observava atentamente os contornos, vales e picos da Floresta da Tijuca e do Maciço da Pedra Branca, num tempo em que o Google Earth não existia nem em sonhos. A ideia era descobrir se havia meios de cruzar a cidade sem sair da Mata Atlântica. Depois de muito olhar pela janelinha e gastar sola das botas no meio da mata, Menezes costurou um percurso de 180 quilômetros que se estende da Barra de Guaratiba aos morros Pão de Açúcar e Cara de Cão e até publicou um livro sobre o assunto. Agora, duas décadas depois que ele propôs o trajeto, a trilha ganhou a forma de um caminho contínuo, aberto, mantido com o trabalho de instituições ambientais, órgãos públicos e mais de 1 000 voluntários, e que pode ser percorrido por qualquer praticante de trekking e caminhadas. Com registros detalhados em um guia de campo bilíngue, um documentário de sete minutos e um site oficial, a nova atração turística carioca deixou a esfera das ideias meio amalucadas e virou realidade. “Finalmente a trilha põe o Rio no mapa dos grandes destinos de caminhada do mundo”, conta Menezes, coordenador de comunicação do projeto.

Dividida em 25 trechos, dos quais 23 totalmente sinalizados com pegadas pintadas em pontos estratégicos, como árvores e blocos de pedra, tanto no sentido oeste­leste quanto no contrário, a trilha batizada de Transcarioca (não confundir com a linha de BRT homônima) pode ser inteiramente atravessada em um período de doze a quinze dias. No trajeto, descortinam-se paisagens variadas distribuídas ao longo de sete unidades de conservação, a exemplo do Parque Estadual da Pedra Branca e do Parque da Catacumba. Há desde atrativos naturais até monumentos históricos e culturais. O Açude do Camorim, na Zona Oeste, é um desses achados. Encravado a 435 metros acima do nível do mar, em meio a montanhas, exibe um espelho-d’água equivalente a um quarto da Lagoa Rodrigo de Freitas, com 18 metros de profundidade. “É incrível, faz você se sentir na Amazônia”, compara Rafael Duarte, diretor da produtora Bambalaio, que realizou os registros de imagem da trilha. Outro destaque é a monumental Pedra do Osso, que pode ser alcançada após um trajeto de 4,8 quilômetros, que começa na entrada da Piraquara, e tem vista para o bairro de Realengo.

Obviamente, alguns pontos exigem mais fôlego e esforço físico, mas os caminhos estão especificados como fáceis, moderados e difíceis, a fim de evitar surpresas aos desavisados. Nessa última categoria está a rota da Grota Funda a Cabungui, um desafio aos mais preparados e dispostos a andar por seis horas — em subidas. “O legal é que você pode conhecer o Rio por ângulos novos e sem pressa. Cada etapa é recompensada por uma vista incrível”, explica Duarte.

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Inspirada na famosa Appalachian Trail, que segue os Montes Apalaches nos Estados Unidos e corta catorze estados americanos ao longo de 3 500 quilômetros, a Transcarioca, assim como sua trilha de referência, será mantida por apoiadores responsáveis por cada trecho. “Ao estabelecermos um eixo de ligação entre importantes ­áreas protegidas, criamos um corredor que promove o intercâmbio entre espécies e traz benefícios à biodiversidade”, enfatiza Horácio Ragucci, coordenador do Movimento Transcarioca, que se encarrega de cuidar do percurso. Além de ter essa relevância ecológica, a ocupação inibe a ação de vândalos e pode contribuir para o aumento da segurança da região, um aspecto nevrálgico para o Rio. “A violência é algo inerente à cidade. Mas, à medida que o espaço se torne conhecido e protegido pelos frequentadores, as autoridades voltarão a atenção para esse quesito”, afirma Marcelo Barros de Andrade, coordenador-­geral do Mosaico Carioca, fórum que representa as unidades de conservação do município e a sociedade civil. “Queremos criar um ciclo virtuoso na região ao estimular também as iniciativas econômicas nas comunidades estabelecidas ali”, analisa Rodrigo Medeiros, vice-presidente da organização Conservação Internacional, contribuinte da causa. O sonho do grupo é, no futuro, replicar o modelo Brasil afora — e quem sabe dar ao nosso país algo tão grandioso quanto a trilha dos Apalaches.

 

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