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A patroa do xerife

Peça-chave nas UPPs, a mulher do secretário Beltrame é alvo de partidos políticos

Por Alessandra Medina
Atualizado em 5 jun 2017, 14h44 - Publicado em 9 dez 2011, 23h45

Mulher do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a carioca Rita de Cássia Cunha Paes passa parte do seu tempo cuidando do filho do casal. Francisco, o Chicão, de 2 anos, parece movido a pilha alcalina, tal sua agitação diuturna. Mas ela tem de guardar energia para uma ocupação paralela à atividade de mãe e que envolve outro xodó do secretário. Desde que o marido implantou as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), no fim de 2008, Rita ganhou uma incumbência complementar. Tornou-se responsável por viabilizar projetos sociais e esportivos nas áreas recuperadas pelo estado, iniciativa fundamental para evitar um retrocesso no programa. Nas favelas, onde circula com desenvoltura, é assediada constantemente. Líderes comunitários e moradores se aproximam com todo tipo de demanda, ora trazendo uma sugestão, ora querendo saber em que pé está o projeto da construção de uma creche, piscina ou quadra. Graças ao bom trânsito que tem em ambos os lados, Rita virou um elo importante entre o gabinete e o morro. “O Mariano (como se refere ao marido) está mostrando que, com boa vontade e competência, a situação da cidade pode melhorar muito”, diz ela.

Funcionária da Secretaria de Direitos Humanos e Ação Social, a “patroa do xerife” visita ao menos quatro vezes por semana as favelas cariocas, com o intuito de radiografar os problemas para, então, poder arregaçar as mangas. Nas regiões pacificadas, seu trabalho começa após a ação policial. Cinco dias depois da ocupação da Rocinha, ocorrida em 13 de novembro, ela já circulava pelo Morro de São Conrado ao lado da presidente da Fundação Theatro Municipal, Carla Camurati. O objetivo da expedição era escolher um lugar para promover um espetáculo de balé nos dias 21 e 22 deste mês. Recentemente, Rita esteve envolvida também na festa de comemoração do primeiro aniversário da UPP do Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Para celebrar a data, organizou um baile de debutantes e um festival gastronômico, realizados na semana passada. Nas solenidades, é uma fiel escudeira do marido. Foi assim na inauguração da UPP da Mangueira, em outubro, quando integrou a comitiva oficial.

Foi graças à Missão Suporte, grupo da Polícia Federal enviado ao Rio para investigar o tráfico de drogas, que o casal se conheceu. Em janeiro de 2004, o gaúcho Beltrame aproveitou um momento de folga no trabalho para espairecer um pouco na quadra do Salgueiro. Lá, acabou esbarrando em Rita, frequentadora da roda de samba da escola. No dia seguinte, eles combinaram ir a um show, mas o namoro só engrenou mesmo dois meses depois. No fim de 2005, Rita e Beltrame resolveram morar juntos. Hoje residem em Ipanema, com o caçula, Chicão, os dois filhos adotivos dela e uma filha do primeiro matrimônio dele. “Nunca havia me casado e isso, definitivamente, não estava nos meus planos”, conta ela. “Mas somos parecidos, gostamos das mesmas coisas e ele acabou me convencendo a tentar.” Com sete anos de convívio, os dois conseguem atrelar os compromissos de rotina. Por volta das 6 da manhã estão de pé e, como trabalham no mesmo prédio, vão juntos para a secretaria. Durante o expediente, falam-se várias vezes. Simpática, do tipo que conversa com todo mundo, Rita monitora o marido de maneira discreta. As poucas funcionárias da Secretaria de Segurança sabem que ela não vê com bons olhos quem trata o chefe com muita intimidade. “Ele é boa- pinta, né?”, elogia. “Mas depende muito mais dele frear esse tipo de assédio.”

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Nascida em Madureira e criada em Deo­doro, Rita é a quinta de seis filhos de um ferroviário e uma dona de casa. Quando entrou naquela fase da vida de escolher uma carreira, chegou a fazer três semestres de psicologia até dar uma guinada radical, trocar de curso e se formar em educação física. Era professora da rede estadual, mas, por precaução, teve de abandonar as escolas onde dava aula porque ficavam perto de favelas conflagradas. Antes de ingressar na profissão, atuou como recepcionista e foi jogadora de polo aquático do Flamengo, embora torcedora fanática do Vasco. Na reta final do Campeonato Brasileiro, ela compareceu com o marido a alguns jogos em São Januário. “Quando o time estava na segunda divisão, fui a todas as partidas”, revela. Aos 46 anos, encontrou na corrida uma maneira de manter a forma. Encara 6 quilômetros três vezes por semana, o que a ajuda a estacionar nos 58 quilos, peso ideal para seu 1,65 metro. Com traquejo social, ótima penetração nos rincões pobres da cidade e sendo mulher de quem é, Rita tornou-se o sonho de consumo dos partidos políticos. O PMDB e o PSB, por exemplo, já a sondaram para disputar uma vaga na Câmara de Vereadores na eleição do próximo ano. Ela desconversa. “Minha vida está nas mãos do Mariano. Se ele sair do Rio, vou junto”, despista. “Nossa, nunca imaginei que um dia fosse dizer isso!” É verdade: as decisões sempre podem mudar.

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