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Susana Vieira, a prima-dona da TV, estreia o musical Barbaridade

Conhecida por seu temperamento explosivo, a atriz anima os bastidores da comédia com seus ataques de estrelismo, comentários ferinos e desbocados

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 2 jun 2017, 12h41 - Publicado em 21 mar 2015, 01h00

Os momentos que antecedem a estreia de qualquer espetáculo costumam ser cercados de expectativa e stress. O musical Barbaridade, uma produção de 10 milhões de reais que entrou em cartaz na quinta-feira (19), no Teatro Oi Casagrande, não foi exceção. Ali, entretanto, o nervosismo tinha, além dos ingredientes habituais, um componente extra: a presença da atriz Susana Vieira como estrela da peça. Uma semana antes da abertura da temporada, o clima era de pura tensão. “Vocês já repararam que estou sem a menor paciência e sem humor. Não durmo direito há dois meses, ensaiando neste caixão preto”,  esbravejou a atriz, ao chegar ao teatro para uma entrevista com VEJA RIO. O motivo da ira era o sistema de refrigeração da casa de espetáculos. “Não posso ficar aqui com o ar condicionado gelado desse jeito, vou pegar uma pneumonia!” Imediatamente, um funcionário correu para aumentar a temperatura. Enquanto parte do elenco aquecia a voz no palco, Susana, de rosto lavado, óculos escuros, calça legging e camiseta, subiu para o foyer, onde aconteceria a conversa. Ali, o azedume piorou e, andando de um lado para outro, reclamou da iluminação do local. “Isso aqui parece uma prisão, não combina comigo. Sou uma pessoa solar”, disse. Decidiu falar no camarim, não sem antes barrar uma assessora e uma produtora da conversa. “Vocês não. Fiquem aqui fora”, ordenou. Uma vez acomodada, respondeu em tom ríspido às perguntas, pontuando suas declarações com mais de uma dezena de palavrões, alguns deles cabeludíssimos. Acostumados com tais rompantes, os envolvidos no trabalho nem estranham mais. “Ela é a própria barbaridade”, define a produtora executiva do espetáculo, Aniela Jordan.

infografico Susana Vieira
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O musical protagonizado por Susana é uma obra bem-humorada sobre o envelhecimento e foi escrito com base em impressões de Luis Fernando Veríssimo, Ziraldo e Zuenir Ventura. Desde o primeiro ensaio, em janeiro, sua presença no elenco tem sido motivo de agitação. Desbocada, do tipo que fala o que vem à cabeça, não deixa ninguém ignorar que a estrela ali é ela e deseja ser tratada como tal. A palavra comedimento não faz parte do vocabulário da atriz, que não poupa ninguém de seus comentários ferinos. Nem mesmo a produtora Aniela, sócia da Aventura, empresa que a contratou para o espetáculo. Em uma das passagens de texto, interrompeu sua fala assim que viu a executiva, na plateia, checando e-mails no celular. “Se você pode, eu também vou usar meu celular em cena”, bronqueou. Um produtor que atuava como faz-tudo nos bastidores, incomodado com os contínuos achaques da atriz, pediu para sair do projeto. Em uma medida inédita em suas peças, a Aventura contratou uma copeira apenas para servir a atriz. Ela adora shake de morango e café com leite (ambos sem açúcar). Não foi suficiente para aplacar seu temperamento indômito. Susana é assídua, mas a pontualidade nunca foi seu forte. E, caso seja feita qualquer insinuação quanto a isso, a resposta é direta: “Estou aqui, não estou? Não morri!”. Ao longo da montagem, foram constantes seus pedidos para que marcações fossem alteradas e trechos do texto modificados. Ela demorou a decorar todas as suas falas, o que levou a equipe ao pânico. “Em alguns momentos foi preciso ter paciência, mas o que importa é que no fim ela sempre brilha”, diz o diretor José Lavigne. “Afinal de contas, Susana é a atriz mais pop do Brasil. Costumo brincar com ela dizendo que é possível vê-la em qualquer parte do jornal, das colunas de TV às páginas de cultura ou de polícia.” Escalado para comandar o espetáculo, Lavigne deixou o posto pouco antes da estreia, sendo substituído por Alonso Barros, o diretor de coreografia. “Minha saída se deveu simplesmente a problemas pessoais”, encerra ele

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.Aos 72 anos, Susana Vieira impressiona pela disposição e pela excelente forma física. Em Barbaridade, ela contracena com os atores Edwin Luisi, Osmar Prado e Marcos Prado. Seu papel é de uma produtora que contrata três autores para escrever uma peça sobre as experiências da idade avançada. A personagem é absolutamente obcecada pela juventude. “Não tem nada a ver comigo, pois não uso nem Botox. Não tenho culpa de não ter rugas”, diz ela. Pontuando suas frases com os vocativos “querida” e “amor”, sempre carregados de ironia, demonstrou irritação quando foi instada a falar sobre o tema da peça. “Que velhice? Não chegou e nem sei a que horas vai chegar. Para mim, o maior xingamento é ser chamada de velha. Há muito preconceito no Brasil. É como ser chamada de vagabunda, ladra.” Ao discorrer sobre a sua (pouca) experiência em musicais, o humor novamente entrou em ebulição: “Os produtores sabem que não chamaram a primeira-bailarina do Municipal ou a Gal Costa. Convidaram a Susana Vieira”. Embora afirme que sua maior preocupação é com a alegria e o bem-estar, a atriz, que iniciou a carreira no teatro de revista, não esconde a fixação com o culto ao corpo. Faz musculação, esteira, balé, alongamento e RPG. Apesar de admitir ter feito cirurgias plásticas aos 50 e aos 55 anos, demonstra que esse não é um assunto fácil para ela. Foi na resposta à pergunta sobre suas cirurgias que ela deu um faniquito e bateu todos os recordes de palavrões ao mencionar as partes de seu corpo tratadas a bisturi. Na fieira de impropérios entrou até uma das mais chulas denominações do órgão sexual masculino: “Meu amor, olha só, eu fiz bunda, peito, b… (genital feminino), p… (genital masculino) e a p… q… p… (ofensa à mãe alheia)”.

Figuras clássicas no universo do teatro, da ópera e do cinema, as prima-donas de temperamento mercurial e arrebatador excitam a imaginação popular. Não à toa, o termo diva está de volta ao universo do funk para designar mulheres poderosas e donas do próprio nariz. Nesse sentido, Susana incorpora o estereótipo com perfeição. O folclore em torno de seus pitis é vasto. Em uma de suas cenas clássicas, disponível no YouTube, arrancou o  microfone das mãos de uma repórter do Vídeo Show que a entrevistava e tascou ao vivo: “Não tenho a menor paciência para uma pessoa que está começando”. Corre nos bastidores da Globo a história em que teria desqualificado uma colega iniciante que havia lhe dado uma sugestão durante uma gravação. Ao ouvir a moça, disparou: “Querida, depois de cinco novelas, você pode falar meu nome. Depois de seis, dar o seu palpite”. No ano passado, trombou com Fausto Silva depois de uma performance desastrada como cantora no programa dominical do apresentador. Em uma entrevista para uma rádio, argumentou que ele “a fez de palhaça” quando, ao vivo, sugeriu que ela cantasse uma música que não estava combinada. Antonio Fagundes, conhecido por sua pontualidade irrepreensível, certa vez a aplaudiu de forma irônica durante as gravações da novela Amor à Vida, depois de irritar-se por ficar esperando a colega no estúdio. Amigo de longa data, o ator e diretor Miguel Falabella diverte-se com a personalidade turbulenta de Susana: “Ela tem energia demais. O problema é que às vezes se destrambelha”.

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Se nos bastidores a fama duvidosa a precede, à frente das câmeras a veterana das novelas continua um fenômeno de popularidade. Uma boa amostra disso foi sua apoteose na Marquês de Sapucaí como rainha de bateria da Grande Rio no Carnaval deste ano, em meio a uma exibição de beldades bem mais novinhas. Ao desfilar, ela levou o público ao delírio, sobretudo no setor 1, o mais popular e destinado às torcidas de escolas. Como integrante do primeiro escalão da TV Globo, onde trabalha há 45 anos, ela conta com privilégios como um motorista para buscá-la em dias de gravação. “Se eu tenho regalias no primeiro time da Globo? Não acho que sejam regalias. Estou dando a minha vida, o meu talento, o meu cérebro e o meu sangue lá. É uma troca.” Uma atriz do patamar de Susana ganha na emissora cerca de 300 000 reais por mês quando está no ar. “Desde o início, ela trilhou um caminho diferente e versátil e foi uma das primeiras atrizes a fazer tanto o papel de mocinha quanto o de vilã”, explica José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-diretor-superintendente da rede. A seu favor, diga-se, apesar dos atrasos e das confusões, sempre primou pelo profissionalismo. “Nunca recusei um papel. Sou funcionária, amor, não sou atriz convidada. Esse é o meu grande mérito, por isso estou sossegada na vida.” Tal característica a mantém em alta entre a cúpula da emissora. “Nunca tive problema algum com a Susana. Ela é superprofissional e talentosíssima”, elogia o diretor Wolf Maia. “Mas reconheço que ela é ruidosa, do tipo ame-a ou deixe-a.”

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Filha de um militar, Susana, que na verdade se chama Sônia Maria Vieira Gonçalves, cresceu entre São Paulo, Rio, Buenos Aires e Montevidéu. Formou-se bailarina no Teatro Municipal da capital paulista, onde nasceu, e iniciou a carreira no corpo de baile da TV Tupi. Seu primeiro marido foi o diretor Régis Cardoso (1934-2005), pai de seu único filho, o DJ Rodrigo Vieira, que mora em Miami e lhe deu dois netos. Depois, uniu-se ao empresário Carson Gardeazabal e hoje namora o mágico Sandro Pedrosa, 41 anos mais jovem que ela. Entre os dois, manteve um relacionamento tumultuado com o e­­x-policial militar Marcelo Silva. No processo de separação, ele lhe roubou joias, dinheiro e ameaçou chantageá-la. Silva morreu em 2008 de overdose de cocaína em um motel carioca. Se no passado ela falava com certa desenvoltura sobre esse episódio dramático de sua vida, hoje não o faz mais. A simples menção do nome de Marcelo durante a entrevista a fez levantar-se e ir embora sem dizer uma só palavra. A uma das perguntas feitas para esta reportagem, Susana respondeu que a idade lhe permite fazer o que quiser. A julgar pelo seu comportamento, ela acredita piamente nisso. 

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