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Pior que vestibular

Com a PEC das Domésticas, creches lotam e o tempo de espera pode chegar a um ano e meio

Por Carla Knoplech
Atualizado em 5 jun 2017, 13h55 - Publicado em 24 jul 2013, 17h10

Se tudo ocorrer conforme o previsto, Maria Fernanda nascerá na primeira semana de outubro, a princípio de parto normal. Paparicada desde a gestação por pais e avós, a menina tem à sua espera um armário abarro­tado de roupinhas cor-de-rosa. Na decoração de seu quarto, reluz a dupla Mickey e Minnie. Tudo está uma lindeza. E o mais curioso é que Nanda já ganhou também, mesmo antes de nascer, além do apelido, sua ficha no Studio da Criança, uma escolinha no Grajaú. Mamãe e papai podem parecer apressadinhos, mas o fato é que eles não são uma exceção ? após as recentes discussões sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) das Domésticas, a procura por creches vem aumentando e há gente que tenta garantir uma vaga, veja só, mesmo antes da confirmação da gravidez.

A mãe de Nanda, a empresária Priscila Seixas, 29 anos, não bobeou. Preocupada com a alta concorrência que assola o mercado de vagas nos berçários e nas escolas particulares da cidade, ela correu para pagar a matrícula na creche mais badalada do bairro. Garantiu, portanto, o futuro próximo de sua caçula (o filho, Arthur, de 3 anos, é aluno ali). Com uma jornada de trabalho que muitas vezes ultrapassa oito horas diárias, a produtora cultural é uma típica mãe moderna. Por causa da praticidade, optou pela segurança de uma infraestrutura com psicólogos, nutricionistas e educadores. “Assim que fiquei grávida, liguei para a secretaria de lá. A sensação de ter a vaga confirmada é quase como a de ganhar na loto”, comenta Priscila.

Para entender o fenômeno, VEJA RIO conferiu como anda a pré-matrícula em algumas das principais creches cariocas (veja o quadro ao lado). Descobriu-se que a disputa é tão grande ? a espera, em alguns casos, dura um ano e meio ? que muita gente tenta correr por fora, à base de pistolão. Há quem se diga, por exemplo, amigo do dono da escola ou vizinho de alguém que já esteja matriculado nela. Nada disso adianta. O que vale de verdade ? e isto é regra em quase todas as creches ? é dar um certo privilégio a novos irmãozinhos de “velhos” alunos, e mesmo assim não se deve perder de vista o contato com a direção da escola. A lista de espera funciona como um ranking. “Existem pais que ligam semanalmente para saber em que posição estão”, conta Anna Emília Ribeiro, supervisora do Acalanto, em Botafogo.

Primeira creche particular criada no Rio, em 1971, a escola tem capacidade para 230 alunos. Em abril passado, percebeu o salto na procura após o trâmite da PEC na Câmara dos Deputados, em Brasília. Contratar uma empregada sairá mais caro, e o mesmo vale para as babás. Preocupados com os salários e impostos do trabalho doméstico, muitos pais refizeram as contas e estão achando mais vantajoso manter os pequenos em um espaço onde eles podem ser deixados às 7 da manhã e buscados até doze horas depois, de banho tomado e devidamente alimentados. “Trabalho aqui há trinta anos, e nunca vi tanta procura. No mês passado teve fila se formando às 4 e meia da manhã”, revela Heloísa Erlanger, coordenadora da Criativa, em Botafogo, que tem outras quatro unidades (Barra, Gávea e duas em Copacabana).

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Segundo dados da Secretaria Municipal de Educação, estabilizou-se, nos últimos cinco anos, o número de estabelecimentos autorizados a ministrar educação infantil na cidade ? são cerca de 2?000 atualmente, mas mesmo assim há mais procura que oferta. Muitas creches fecham por dificuldade financeira ou má administação e, em regiões como a Barra, por exemplo, a relação candidatinho-vaga é altíssima. Moradora do bairro, a analista de telecomunicações Rafaela Galperin Carneiro, 29 anos, aguarda na posição 87 a convocação para que a sua pequena Clara, que está com 7 meses de idade, possa enfim ter um lugar para passar o dia, comer, aprender e brincar. Nessa loteria, ela marca um “duplo”: está tentando a sorte em dois lugares ao mesmo tempo. “Comecei a procurar no sétimo mês de gestação. Por enquanto, não tenho nenhuma resposta. O pior é que já voltei a trabalhar”, preocupa-se. Com mensalidade na casa dos 2?200 reais em período integral, as creches mais procuradas do Rio têm mimos como horta, zoológico, areia antialérgica, ensino de inglês ainda no berçário e camas personalizadas, além do ininterrupto apoio pedagógico e educacional. Resta saber se, pelo tempo de espera, cada vez maior, os bebês já não estarão crescidos demais quando puderem usufruir o pacote.

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