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Corrida contra o relógio

Imprevistos e falhas nos projetos prejudicam as grandes obras em execução na cidade

Por Felipe Carneiro e Ernesto Neves
Atualizado em 5 jun 2017, 14h53 - Publicado em 12 ago 2011, 15h53
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De todas as transformações prometidas para a cidade nos próximos anos, a revitalização da região portuária tem tudo para ser a mais impressionante. Quando as obras terminarem, a atual degradação dará lugar a prédios de escritório modernos, residências e empreendimentos de lazer. Grandioso, o projeto tem uma construção-símbolo: o Museu do Amanhã. Trata-se de uma estrutura futurista, com desenho do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, cujas placas do teto simulam o efeito de ondas em meio às águas calmas da Baía de Guanabara. A proposta inicial era inaugurar a atração com pompa e circunstância em agosto do ano que vem, quando líderes do mundo inteiro estarão na cidade para a Rio +20, conferência das Nações Unidas que vai promover o desenvolvimento sustentável. Tal cenário, no entanto, não deve se concretizar. Desde o dia 3 de junho, o contrato está suspenso, como comprova uma publicação no Diário Oficial do Município datado de dois dias antes. Dos 22 milhões de reais que deveriam ter sido pagos às empreiteiras até o último dia 15 de julho, apenas 4 milhões deixaram os cofres da prefeitura. O próprio secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, admite que o edifício não estará pronto antes do segundo semestre de 2013. “Infelizmente, não há condições para receber a conferência”, diz ele.

[—FI—]

Desde que a construção do arrojado prédio foi anunciada, em fevereiro do ano passado, o projeto tem sido marcado por alterações e revisões. No lançamento, o então secretário de Desenvolvimento Econômico, Felipe Góes, afirmou que o teto imposto para o orçamento era de 65 milhões de reais. Meses depois, durante a apresentação da maquete, na presença de Calatrava, a cifra dobrou. Em maio, nova majoração. Na exposição à Câmara dos Vereadores, o secretário Alexandre Pinto estimou o valor em 200 milhões de reais. As razões da explosão do custo ? e do atraso ? são constrangedoras. A única fornecedora possível das engrenagens elaboradas pelo arquiteto espanhol é uma empresa de sua confiança, que cobra valores extremamente altos para a confecção dos componentes. Resultado: o número de eixos previsto no desenho original, que era de 42, foi reduzido a dois, e a prefeitura neste momento procura um novo fornecedor.

Atrasos como o do Museu do Amanhã não chegam a ser uma surpresa. Estouros no prazo e no orçamento são a regra, e não a exceção, quando o assunto é obra pública (veja o quadro na pág. 19). Os motivos podem ser jurídicos, técnicos ou políticos, sem falar, é claro, da corrupção. Mas a origem dos três primeiros costuma estar em um problema comum: a falta de um planejamento criterioso. “Para que não haja imprevistos nem desperdício de dinheiro público, é preciso dedicar pelo menos dois anos apenas ao projeto”, afirma o engenheiro Antônio Eulálio Pedrosa, membro do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura. Foi o que aconteceu em Londres, durante os preparativos para os Jogos Olímpicos de 2012. Por aqui, é comum que empreitadas de alta complexidade sejam realizadas simultaneamente à execução dos planos. “Para ganhar tempo, o Maracanã começou a ser reformado antes da apresentação do caderno de exigências da Fifa. Quando o documento chegou, muita coisa simplesmente precisou ser refeita”, diz o deputado estadual Luiz Paulo (PSDB), que pediu uma audiência pública na Alerj para apurar irregularidades.

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Anthony Charlton/Olympic Delivery Authority via Getty Images
Anthony Charlton/Olympic Delivery Authority via Getty Images ()

O caso do Maracanã, por sinal, é emblemático. Um ano depois de iniciada a reforma, em fevereiro deste ano, o Tribunal de Contas da União acusou o governo estadual de apresentar um projeto superficial, inútil para guiar uma obra de tamanha envergadura. A título de comparação, o governo mineiro enviou 1?309 plantas da modernização do Mineirão ao TCU, contra apenas 37 do Maracanã. O trabalho continua, mas o financiamento de 400 milhões de reais do BNDES só será liberado com a aprovação do novo orçamento. O maior problema veio em março, quando se descobriu que a marquise estava condenada. A construção de outra cobertura catapultou o custo de 700 milhões para 931 milhões de reais. Para manter os prazos para os jogos da Copa das Confederações, em 2013, o contingente de operários, divididos em equipes, passou de 800 para 2?000, trabalhando 24 horas por dia, de segunda a sábado. O mesmo expediente será aplicado na ampliação do Sambódromo. Com problemas no Tribunal de Contas do Município, o complexo precisará de mais gente para que seja entregue antes do Carnaval de 2012.

Existem exceções. Algumas das intervenções que integram o projeto de renovação da cidade com vista aos Jogos estão dentro do prazo. Uma delas, na verdade, foi até antecipada. O Parque dos Atletas, nos arredores da futura Vila Olímpica, foi entregue no último dia 8 e receberá ainda neste mês o Rock in Rio. Outro exemplo positivo é a Transoeste, ligação de 56 quilômetros entre a Barra da Tijuca e Santa Cruz. Até agora, a estrada segue o cronograma previsto, e deve ser inaugurada em julho do ano que vem.

É uma ótima notícia que obras diretamente ligadas ao projeto olímpico estejam adiantadas. Embora ainda faltem cinco anos para os Jogos, qualquer descuido pode ser fatal. Um caso que exige atenção é o do corredor expresso de ônibus que ligará a Barra da Tijuca a Deodoro, a Transolímpica, cuja pedra fundamental já foi adiada duas vezes, por pura falta de projeto. “Ainda não há definição sobre o orçamento, de onde vem o dinheiro o que vai ser desapropriado”, alerta a vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB). Outra preocupação é o metrô. Recentemente, o secretário de Transportes, Júlio Lopes, admitiu que dificilmente a Estação Gávea, na Linha 4, ficará pronta no prazo previsto, em 2015. Um sinal de que os dois grandes eventos internacionais que ocorrerão na cidade deverão propiciar muitas emoções aos cariocas ? dentro e fora dos estádios.

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