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A dor de mais uma tragédia

O caçula do novelista Manoel Carlos morre aos 22 anos em Nova York — um golpe devastador para quem já havia sofrido a perda de outros dois filhos

Por Daniel Hessel Teich, com reportagem de Daniela Pessoa e Louise Peres, de Nova York
Atualizado em 2 jun 2017, 12h57 - Publicado em 11 out 2014, 01h00

 

A morte de um filho é provavelmente a pior dor que uma pessoa pode experimentar. Nenhum pai ou mãe consegue se imaginar passando por tal provação abissal, que subverte a ordem natural das coisas. No último dia 4, o novelista Manoel Carlos e sua mulher, a museóloga Betty Almeida, enfrentaram esse golpe devastador. O filho caçula do casal, o ator Pedro Almeida, de 22 anos, foi encontrado sem vida em seu apartamento em Nova York, onde morava desde 2011, por sua namorada, a americana Sophie Overwater. Os dois atuavam na Dramatic Arts New York Company e haviam saído juntos na noite anterior à tragédia. Da mesma forma que caiu como uma bomba no apartamento da família no Leblon, a notícia desencadeou uma onda de choque e pesar pela internet, em que colegas do rapaz, amigos da família e atores que trabalharam nas novelas de Maneco trocaram uma corrente de mensagens, estarrecidos com o episódio. Até o fechamento dessa edição, a causa da morte era desconhecida e a família aguardava o laudo produzido pela perícia americana, que deve sair nos próximos dias. Para o autor, de 82 anos, a morte de Pedro foi particularmente sofrida pois se soma à perda de dois outros filhos – Ricardo, em 1988, aos 32 anos, por infecção pelo HIV, e Manoel Carlos Júnior, de ataque cardíaco, aos 59 anos, em 2012. Os dois eram fruto de seu primeiro casamento com a artista plástica Maria de Lourdes, que morreu aos 36 anos ao cair de uma escada. “Estamos destroçados, eu e minha mulher. É meu terceiro filho que se vai e nunca pensei viver isso. É uma prova de fogo que estou enfrentando”, desabafou o autor a VEJA RIO na última quarta-feira. O autor é pai também de Maria Carolina, 43 anos, nascida de seu casamento com a radialista e deputada estadual Cidinha Campos, e da atriz Julia, 31, do casamento com Betty.

Pedro e Manoel mantinham uma relação particularmente estreita. Nascido quando o novelista tinha 58 anos, o rapaz não escondia a admiração e o afeto que nutria pelo pai. Em umas das passagens mais emocionantes da homenagem que os amigos americanos prepararam para ele em Nova York, na noite de segunda-feira (6), foram lidas cartas que o jovem ator escreveu endereçadas ao pai e à mãe. Para o Maneco, registrou: “Você é o melhor pai de todo o universo dos pais. Obrigado pelo apoio incondicional e por me apresentar ao teatro, ao cinema, à música, aos livros, muitos livros”. Na cerimônia, realizada em um auditório lotado, foram exaltadas a generosidade e a simpatia de Pedro. “Não consigo me lembrar de nada de ruim quando penso nele. Só daquele sorriso e dos abraços – como ele gostava de abraçar!”, disse um colega. “A felicidade que ele sentia de estar em Nova York e realizar seus sonhos aqui era enorme. Assim como era grande o orgulho que o pai sentia por ele. E nós também”, disse a namorada Sophie, antes de ler o poema que posteriormente foi escolhido por Manoel para sua crônica quinzenal em VEJA RIO (clique para ler a homenagem ao filho).

A trajetória profissional de Manoel Carlos praticamente se confunde com a história da televisão brasileira. A novidade não tinha nem seis meses no país, quando ele debutou na TV Tupi de São Paulo, cidade onde nasceu em 1933. Começou adaptando peças de teatro ao novo meio de comunicação. Estreou nas novelas da TV Globo a convite de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, em 1978. Foi o princípio de uma trajetória que culminou em clássicos da teledramaturgia como Laços de Família (2000), Mulheres Apaixonadas (2003) e Páginas da Vida (2006). Ao escrevê-las, Maneco chegou a ser chamado de “Tchecov das novelas”, numa referência ao escritor que esmiuçou com seu olhar arguto a sociedade russa dos últimos anos do czarismo. Seu último trabalho, a novela Em família, foi ao ar de fevereiro a julho e, segundo Maneco, encerra sua passagem pelos extensos folhetins das nove da noite.

Com o tempo, Manoel Carlos construiu uma linguagem muito peculiar, marcada por longos diálogos, ritmo cadenciado e personagens em situações comuns, como conversas à mesa do café da manhã. “Minhas novelas são sobre a família. Se há algo que marcou minha vida foram as refeições com todos os parentes reunidos. É quando afloram  os problemas e as felicidades”, disse em entrevista a VEJA, em janeiro do ano passado. Em uma crônica de VEJA RIO publicada em junho, ele descreveu uma reunião com seus filhos a pretexto de assistir um jogo de futebol na Copa das Confederações – uma churrascada que uma chuva repentina transformou em picadinho na mesa da cozinha. No texto, expressava sua alegria de ter Júlia e Pedro reunidos em casa, no Rio, oportunidade cada vez mais rara com a filha morando em Londres e o filho em Nova York. “De qualquer maneira, posso garantir que o que valeu foi a felicidade de estarmos juntos. Em família”, resumiu. Desde o último fim de semana, alegrias simples como essa são parte das muitas lembranças de Maneco.

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Clique para ler a crônica escrita por Manoel Carlos em homenagem ao filho

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