Há dois anos afastado dos palcos cariocas, desde a montagem da comédia A Noite Mais Fria do Ano, em 2009, Marcelo Rubens Paiva está de volta à cidade em dose dupla. Acaba de estrear no Oi Futuro o drama contemporâneo Deus É um DJ, em que assina a direção e participa da tradução do texto do alemão Falk Richter. Na sexta (21), entra em cartaz no Sesc Rio Casa da Gávea o seu 15º texto, C?Est la Vie, baseado em diálogos do serviço de disque-denúncia.
Houve um planejamento para as temporadas simultâneas? É uma coincidência feliz. Veio tudo ao mesmo tempo, apesar de essas peças terem sido escritas em anos diferentes. Estamos há uma década tentando montar Deus É um DJ. Teve uma temporada em que estreei quatro espetáculos no eixo São Paulo-Rio. Algumas montagens demoram para captar patrocínio, outras são rápidas. Depende também das agendas de atores e teatros.
A trama de Deus É um DJ envolve um casal multimídia contratado por uma galeria de arte para ter suas imagens transmitidas pela internet. A ideia de fazer a encenação dentro de um cubo de vidro se inspirou naquele aquário do Big Brother exposto em um shopping? Não, não. Fazia sentido botar o casal num aquário, tal como peixes cujo modo de vida nós observamos.
Como foi transformar em comédia os relatos coletados pela atriz Ester Jablonski no disque-denúncia? Não seria uma comédia, mas acabou virando. Ela me mandou os testemunhos dos atendentes. Eram tão incríveis que bastou organizá-los, criar os personagens que faziam as denúncias e seus interlocutores, e colocar tudo dentro de uma lógica dramatúrgica. A Andorinha (personagem de Ester) é uma pessoa de verdade que realmente ligava para o serviço. Eu me imaginei no lugar do atendente que ouvia as suas histórias bizarras, de um espectro de gente solitária das grandes cidades. E não as desprezamos; ao contrário, nós nos solidarizamos, como fazem no Centro de Valorização da Vida e no próprio disque-denúncia. Na verdade, a solidão é comum a todos.