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Lagoa abandonada

Áreas degradadas, entulho acumulado e equipamentos sucateados fazem do cartão-postal um símbolo do descaso

Por Caio Barreto Briso
Atualizado em 5 jun 2017, 14h59 - Publicado em 19 Maio 2011, 17h12

Cercada por uma paisagem deslumbrante, que inclui vistas do Corcovado, do Morro Dois Irmãos e da Pedra da Gávea, a Lagoa Rodrigo de Freitas é um cenário ímpar em uma cidade onde o que não falta são maravilhas naturais. Não raro, serve como locação de filmes e novelas, tamanha a sua beleza. Um olhar mais atento e menos entusiasmado, no entanto, revela mazelas capazes de envergonhar qualquer carioca. Quadras esportivas degradadas, iluminação pública ineficiente, bueiros com tampas abertas ou quebradas, pontos nos quais se acumula água da chuva, parques infantis ocupados por mendigos e usuários de drogas: para qualquer lugar que se olhe, há sinais de abandono em um local onde 120 000 pessoas passeiam a cada fim de semana. A situação é tão grave que o entorno do espelho-d?água, encravado em uma das regiões mais nobres do Rio, apresenta focos favoráveis à proliferação do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, com a presença de larvas e do próprio inseto. Até mesmo a ciclovia, de 7,5 quilômetros, uma das atrações mais procuradas por ali, enfrenta problemas de conservação. “Alguns pontos são tão estreitos que temos de andar praticamente no meio dos carros”, diz a atriz Fernanda Torres, colunista de VEJA RIO, que costuma correr e passear de bicicleta com seus filhos no cartão-postal.

Dos 160 bairros cariocas, a Lagoa é o que tem a maior renda por habitante – 3 362 reais por mês, valor dezessete vezes superior ao de Costa Barros, detentor do índice mais baixo. Escolhida em uma eleição feita por VEJA RIO em agosto de 2010 como a região preferida dos cariocas para praticar esportes e fazer programas com as crianças, era de esperar que a Lagoa recebesse atenção especial do poder público, já que, além de servir à população, é uma das principais atrações turísticas do Rio. Com manutenção precária, o espaço está degradado. Uma evidência é a decrepitude das quadras esportivas do Parque do Cantagalo, um dos três instalados na área (os outros dois são Patins e Taboas). Nas duas de basquete, por exemplo, o piso de concreto está repleto de rachaduras que podem provocar quedas e torções nos jogadores e machucar as crianças que brincam ali diariamente. À noite, o lugar serve de refúgio a usuários de crack, que se aproveitam da pouca iluminação e da falta de policiamento. A quadra de tênis se encontra em situação igualmente precária. Sem rede e com crateras no chão, tem sido destruída a olhos vistos com o roubo de pedaços da grade metálica ao redor. Levar os filhos ali é um risco, pois existem bueiros abertos ao longo do piso de terra batida ? que se transforma em um alagadiço cada vez que chove.

Felipe Fitipaldi
Felipe Fitipaldi ()

A última grande intervenção urbanística na orla da Lagoa data do fim dos anos 90, quando foram erguidos os quiosques nos parques dos Patins e do Cantagalo. Na década passada, foi a vez de as autoridades se dedicarem a obras para reduzir a poluição do espelho-d?água de 2,4 quilômetros quadrados. O processo ainda não foi concluído, mas, graças a parcerias com empresas privadas, o cheiro pútrido que emanava dos despejos irregulares e a mortandade de peixes deixaram de fazer parte do cenário paradisíaco. Fora da água, no entanto, a incúria tornou-se prática usual por toda a orla. O estado dos graciosos pedalinhos em forma de cisne é calamitoso. As unidades que precisam de manutenção ficam abandonadas junto ao deque e acumulam água da chuva, tornando-se criadouros de insetos. As que funcionam têm problemas sérios, como farpas e fendas nos bancos e componentes metálicos enferrujados. No Parque dos Patins, mendigos ocupam os brinquedos do playground. “Eu amo a Lagoa e reconheço os avanços que já aconteceram, mas sinto falta de banheiros químicos e de uma coisa que salvou a Oitava Avenida de Nova York: iluminação. A Lagoa está no escuro e é pouco policiada”, diz o ator Ney Latorraca, morador da Avenida Epitácio Pessoa.

A prefeitura argumenta que a má fase do cartão-postal tem data para terminar e que, até o fim do ano, o local deve ressurgir renovado depois de uma ampla reforma. Cerca de 8,3 milhões de reais serão investidos em obras de infraestrutura e na recuperação de instalações, inclusive nas dezoito quadras esportivas e na ciclovia ? que ganhará nova sinalização. Para acabar com a escuridão, 567 postes de iluminação serão trocados por novos modelos, com a substituição das lâmpadas atuais por outras mais luminosas e econômicas. “Vamos sanar os problemas e entregar à cidade um belo projeto. É uma promessa que será cumprida”, diz o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório. É o que os cariocas esperam, ávidos por continuar a usufruir a estupenda combinação de espelho-d?água e montanhas que faz da Lagoa um dos lugares mais lindos do Rio.

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