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Detona, Bruno

Quem é o engenheiro, especialista em implosões, que executa a derrubada de imóveis grandiosos da cidade, uma atividade em franca expansão em virtude da reforma urbana por que passa o Rio

Por Bruna Talarico
Atualizado em 5 jun 2017, 14h06 - Publicado em 3 abr 2013, 21h28

O nome da empresa guarda uma incongruência em si: Fabio Bruno Construções. Dito assim, parece que se trata de uma firma especializada em erguer empreendimentos imobiliários ou algo do gênero. Nada mais enganoso, porém. Na verdade, o propósito dessa firma carioca é exatamente o oposto: pôr abaixo edificações em desuso ou deterioradas, a fim de abrir terreno para novos prédios. Com a profusão de reformas em curso no Rio nestes últimos tempos, a companhia tem tido trabalho redobrado. Ela é a responsável pelas principais implosões ocorridas na cidade, envolvendo conjuntos gigantescos e operações de alto grau de dificuldade (veja o quadro na pág. 36). Entre as mais destacadas, figuram as detonações da penitenciária da Frei Caneca, da fábrica desativada da Brahma na Passarela do Samba e do antigo prédio da Editora Bloch, todos na mesma região, entre o Estácio e o Catumbi. Na pauta de compromissos, já há um próximo endereço destinado a virar pó. A empresa tem até o dia 16 de abril para derrubar o Quartel-General da Polícia Militar, que ocupa um quarteirão no centro da cidade. “Vivemos um momento único. O mercado das implosões está em franca expansão aqui”, afirma Fabio Bruno, dono da empresa.

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Desde a abertura da Avenida Presidente Vargas, nos anos 40, e o desmonte dos morros do Castelo e de Santo Antônio, nas décadas anteriores, o Rio não assistia a tamanho bota-abaixo. Numa nova sequência de derrubadas, as obras de expansão viária e a cirurgia urbana na região portuária foram decisivas para aquecer o negócio das implosões. As vantagens dessa opção são evidentes. Enquanto uma demolição convencional, daquelas com retroescavadeiras e marteladas, pode levar seis meses e produzir muito barulho e poeira, o uso de dinamite resolve o problema em menos de um minuto ? sem contar o impacto visual das imagens, que invariavelmente viram atração nos noticiários. Destruir faz parte de um ramo da engenharia civil tão complexo quanto construir. É preciso montar uma equação que leva em conta a estrutura do imóvel, a quantidade de explosivo a ser usado e os locais estratégicos onde ele será colocado, para que a peça venha ao chão sem abalar seu entorno. Na implosão da antiga fábrica da Rheem, em Benfica, houve um complicador extra: uma das faces do imóvel ficava a menos de 1 metro de uma favela. Depois de muito cálculo, a ação foi bem-sucedida e nenhum barraco foi afetado. Para facilitar a missão e mitigar os riscos, o engenheiro utiliza um software que simula com alta precisão as operações. Desenvolvido pela americana Applied Science International, o programa tem como principal cliente o governo dos Estados Unidos, que, ao contrário da empresa brasileira, recorre à tecnologia para reforçar a estrutura física de suas repartições, numa precaução contra atentados terroristas.

Pode-se atribuir o êxito da empresa ao bom faro comercial de Fabio Bruno, engenheiro de 36 anos formado na Universidade Federal de Minas Gerais e que fez um curso de extensão na Michigan Technological University, nos Estados Unidos. Filho do também engenheiro civil Giordano Bruno Pinto, um profissional há quatro décadas na atividade de desmonte de rocha, ele fundou a companhia com o pai há pouco mais de dez anos. Antes, em fevereiro de 1998, Giordano já havia participado da derrubada do Palace II, cuja estrutura ficara comprometida por um desabamento ocorrido poucos dias antes. De cinco anos para cá, as demandas se intensificaram, com efeito explosivo no número de funcionários ? em torno de setenta pessoas ? e no caixa da empresa. Embora não revele os valores, Fabio Bruno estima que o faturamento tenha crescido 600% no período, impulsionado pela média de oito implosões anuais, que não custam menos de 2 milhões de reais cada uma. Recentemente, investidores avaliaram a firma em 100 milhões de reais.

Informações compartilhadas em conferências como a World Demolition Conference, cuja próxima edição será em outubro, na cidade de Amsterdã, na Holanda, apontam os Estados Unidos e a China como os principais mercados do setor. Entretanto, o Rio está na lista das cinco cidades com maior atividade no ramo. “Implosões estão sempre ligadas a algum evento natural, como terremotos e tsunamis, ou a um período de desenvolvimento, como é o caso do Rio agora, às vésperas de sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada”, afirma o inglês Mark Anthony, que assina um conceituado portal sobre demolição e implosão. Como se vê, destruir também pode ser um grande negócio.

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