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Crise no mercado imobiliário paralisa a venda de fazendas no Rio

Queda de vendas chega ao interior do estado e afeta o mercado de propriedades rurais

Por Ernesto Neves
Atualizado em 2 jun 2017, 12h35 - Publicado em 5 jun 2015, 00h59

Cortada de norte a sul por serras e vales férteis, a zona rural do estado foi, por séculos, motor econômico do país. Da cana-de-açúcar responsável por sustentar Portugal até o café da época do Império, os ciclos de bonança se sucederam e deixaram como legado propriedades que combinam vocação agropecuária a valor histórico. No entanto, uma série de fatores contribui para transformar esses imóveis em elefantes ­brancos. Há tempos a fronteira agrícola migrou para regiões de terras mais baratas e maiores ganhos de produtividade no Centro-Oeste e no Norte do país, onde a mão de obra e a terra custam menos. O crescimento desordenado de centros urbanos fluminenses, aliado à violência, trouxe uma sensação de insegurança aos arredores dessas grandes porções de terra. E, para completar, o ajuste econômico enfrentado pelo país afetou drasticamente o mercado imobiliário. Se, até o fim do ano passado, a grande liquidez dos imóveis na cidade do Rio alavancava os investimentos em propriedades rurais, isso hoje não acontece mais e os compradores potenciais minguaram de vez. “Desde dezembro a situação se agravou muito”, diz Francisco Rezende, dono da imobiliária FR Fazendas. “Tenho uma propriedade em Conservatória que vale 10 milhões de reais, mas o dono já aceita vendê-la por preço 40% menor. E parcelado em até 36 meses”, conta. 

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A estagnação do mercado de latifúndios atinge, principalmente, regiões pouco dinâmicas da economia fluminense, como o norte do estado. Mas, devido à crise, começa a se espalhar também para o Vale do Paraíba, em localidades como Vassouras e Valença, onde as propriedades costumam ter maior liquidez. Com quinze chácaras no estoque de sua imobiliária, a corretora Ana Maria Lamounier viu o setor ir da euforia à depressão em apenas dois anos. Isso aconteceu porque houve uma injeção de recursos muito forte durante o boom dos preços dos apartamentos no Rio, entre 2009 e 2013. Naquela época, era comum que famílias da Zona Sul carioca com mais de um apartamento se desfizessem de um deles para investir em terras. “Hoje, acho mais fácil vender um rancho em Portugal que no Estado do Rio”, resume ela. Outro fator que afugenta interessados é o custo para manter uma propriedade no campo. Uma chácara com área de lazer, quatro cavalos e dois caseiros não sai por menos de 15 000 reais mensais. Com uma fazenda de grande porte, não se desembolsam menos de 50 000 reais. “Anos atrás, todo mundo queria um bom sítio. Isso mudou completamente, principalmente devido às despesas com manutenção”, diz Augusto Melo, da ACM Imóveis. Atualmente, ele tem em sua carteira 200 imóveis desse tipo à espera de interessados.  

Márcia Habib
Márcia Habib ()

Em áreas mais próximas da capital, como Petrópolis e Teresópolis, a solução encontrada pelo mercado tem sido fatiar os latifúndios em lotes menores, para que se transformem em condomínios rurais. Assim, quem adquire esses espaços consegue benefícios, como segurança privada, por exemplo, a custos muito inferiores. E o dono da terra, por sua vez, livra-se do ônus de manter toda a propriedade. A cinquenta minutos de Petrópolis, a família Habib plantou 50 000 árvores para transformar uma fazenda pouco produtiva em um empreendimento ecológico de luxo. Somadas, as terras têm mais que o dobro do tamanho de Copacabana, Ipanema e Leblon juntos. Cada lote possui 200 000 metros quadrados e custa 1 milhão de reais. “Quem nos procura são empresários com filhos e que querem um espaço livre do stress urbano”, diz Márcia Habib, à frente do projeto. Até agora, foi vendida metade das 22 unidades. Márcia, no entanto, não teme que seu empreendimento encalhe com a crise. “As pessoas que nos visitam são seduzidas pelo projeto. E veem que vale a pena pagar mais para ter uma casa cercada pela natureza”, aposta. Otimista, ela acredita que crise e oportunidade caminham lado a lado.

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