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Aí vem a cavalaria

De olho nos grandes eventos, a Polícia Montada dobra o seu número de equinos

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 jun 2017, 13h47 - Publicado em 9 out 2013, 17h15

Ao mesmo tempo em que investe uma fortuna em equipamentos de alta tecnologia, a Polícia Militar do Rio aposta pesado em uma arma usada desde a Antiguidade: o cavalo. De dois anos para cá o Regimento de Polícia Montada (RPMont) dobrou o seu plantel de 155 para 310 animais. Apenas em 2013 o estábulo do grupamento, situado em Campo Grande, recebeu 89 novos animais, todos da raça lusitana. “Com a chegada dos me­­gae­ven­tos, os equinos terão um papel estratégico para garantir a segurança no acesso a estádios e arenas esportivas”, diz o comandante da unidade, tenente-coronel Anderson Maciel, desde janeiro à frente da divisão. Como entre suas atribuições está o patrulhamento de grandes aglomerações, caso do Rock in Rio e das manifestações que se tornaram rotineiras nas nossas ruas, a Polícia Montada já está tendo muito trabalho e só neste ano realizou mais de 200 operações.

Antes de serem considerados aptos a atuar nas ruas, os cavalos passam por um treinamento draconiano, que pode durar de seis meses a um ano e é igualmente desgastante para o cavaleiro. De fato, não é tarefa para qualquer um. Para aguentar o tranco das ruas e evitar que uma reação extremada ponha em risco a integridade da dupla ? e, consequentemente, das pessoas ?, é fundamental que os animais estejam preparados para toda situação. Dessa ma­neira, são obrigados a encarar exercícios radicais, como atravessar cortinas de fumaça, saltar pneus em chamas e galopar ao mesmo tempo em que desviam de frutas e legumes podres que são lançados pelos próprios policiais. Há ainda circunstâncias mais graves. O adestramento inclui tiros de bala de borracha e granadas de efeito moral duas vezes por mês em média. Não raro, acontecem acidentes. Na visita de VEJA RIO ao campo de treinamento, um PM sofreu uma dura queda durante a prática e teve de ser removido de ambulância ao hospital, com a coluna imobilizada. “Alguns imprevistos ocorrem porque o bicho percebe pelo olfato que o montador está com medo”, conta o segundo-sargento e adestrador Francisco Augusto Soares. Apenas neste ano, dezoito cavaleiros daquela divisão receberam licença médica em decorrência de algum trauma. Como há 320 homens para quase o mesmo número de cavalos, as duplas são praticamente fixas. No fim do dia, os próprios agentes dão banho nos animais. Não é só. Após as operações mais encarniçadas, os equinos recebem paparicos como bananas, maçãs e até pés de moleque, isso sem contar os 6 quilos de ração mais os 12 de capim que cada um deles consome diariamente.

Lucas Landau
Lucas Landau ()

O novo ciclo da Polícia Montada fluminense começou em setembro de 2009, quando o comando da PM decidiu transformar o RPMont numa equipe especializada de verdade. Até então, os servidores lotados naquele grupamento eram responsáveis, entre outras funções, pelo patrulhamento, a pé e motorizado, das ruas de Campo Grande, na Zona Oeste. Com os protestos que descambaram para a convulsão nas ruas, o RPMont vem vivendo sua prova de fogo dessa nova fase. Um dos orgulhos de seus homens foi ter conseguido impedir que milhares de baderneiros invadissem a sede da prefeitura, na Cidade Nova, na noite de 20 de junho. “Eu garanti que o edifício ficaria intato e consegui cumprir a promessa”, recorda o comandante Maciel.

As origens do regimento remontam a mais de dois séculos. Criada em 1809 por dom João VI, a Guarda Real da Polícia do Rio de Janeiro tinha entre seus mais de 200 homens uma pequena companhia montada. Não deixa de ser curioso observar que, ao contrário do que acontece aqui, em outras metrópoles o uso do cavalo como instrumento de segurança pública está em baixa. É o caso de Nova York, onde os animais foram sendo substituídos por bicicletas e scooters elétricas. Hoje, apenas sessenta cavalos patrulham a cidade americana, menos da metade do número de poucos anos atrás. Por aqui, a realidade é outra. Os cavalos estão em plena atividade e só são substituídos quando completam 24 anos, idade da aposentadoria compulsória. No entanto, não param de trabalhar. Ao pendurarem as ferraduras, eles passam a ser aproveitados no programa de equoterapia do regimento, que atende gratuitamente oitenta crianças com deficiência. “Nos­so lema é que a ca­va­laria não refuga nunca”, diz o co­mandante Maciel. Nem mesmo quando pendura as ferraduras.

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