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Caçadores de negócios

Funcionários da agência de investimentos do Rio correm o mundo atrás de empresas interessadas em aplicar recursos na cidade ? e, em um ano, já conseguiram atrair mais de 1 bilhão de reais

Por Caio Barretto Briso
Atualizado em 5 jun 2017, 14h58 - Publicado em 8 jun 2011, 17h21

Tratar de negócios com uma equipe de quinze executivos da terceira maior empresa do mundo é o tipo de tarefa que exige um excelente preparo ? e muito sangue frio. Ambas as características fazem parte do perfil do advogado Marcelo Haddad, 50 anos, e do grupo de jovens profissionais que comanda. Em maio do ano passado, ele enfrentou a situação acima com galhardia. Na reunião, realizada no gabinete do prefeito Eduardo Paes, o advogado se viu diante do primeiro escalão da General Electric (GE) nos Estados Unidos, um colosso que fatura 117 bilhões de dólares por ano. Seu papel ali era convencer os estrangeiros de que o Rio era melhor do que Belo Horizonte, São Paulo, Campinas e São José dos Campos para receber um novo centro de pesquisa da companhia, o quinto no mundo (os demais estão na Índia, na China, nos Estados Unidos e na Alemanha). A situação não era confortável. A cidade era a última a fazer sua apresentação, quase um azarão na disputa, principalmente levando-se em conta a tradição das três rivais paulistas na área de tecnologia e inovação. Mas Haddad impressionou os americanos com sua performance, repleta de dados sobre a pujança dos setores de energia e petróleo e sobre a alta qualificação dos pesquisadores cariocas ? tudo o que o pessoal da GE queria ouvir. Não satisfeito, ligou para o coordenador do grupo e marcou uma nova reunião, agora na sede mundial de pesquisa da empresa, em Niskayuna, no estado de Nova York. Resultado: levamos o centro de pesquisa, um megalaboratório de 450 milhões de dólares e vagas para 300 pesquisadores de primeríssima linha a ser erguido nos próximos dois anos na Ilha do Fundão.

Divulgação
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A negociação com a GE foi a estreia da Rio Negócios, agência municipal dedicada a caçar oportunidades e investidores interessados em aplicar recursos na cidade. Haddad, o diretor da agência, comanda uma equipe de oito pessoas com faro de perdigueiro e uma brutal capacidade de levantar dados e informações que ajudem nas negociações. Economistas, jovens e com experiência na iniciativa privada, eles cruzam o planeta vendendo o Rio, suas vantagens e peculiaridades a todo tipo de empresa, dos mais variados setores. Pioneiro no Brasil, o escritório carioca se estrutura em um formato parecido com o de entidades similares no exterior. E, pelo jeito, nasceu fadado ao sucesso. A meta inicial de atrair 600 milhões de reais em dois anos foi superada com louvor: conseguiu 1 bilhão nos primeiros doze meses. Nesse período, foram realizados 183 contatos com potenciais investidores, um a cada dois dias. Não raro, eles acontecem em lugares como a cidade texana de Houston, centro da indústria do petróleo nos Estados Unidos, ou Pequim, na sede de algum fabricante de eletrônicos. São viagens marcadas com meses de antecedência e que chegam a render seis reuniões diárias. A fórmula do êxito inclui não apenas profissionalismo e experiência na iniciativa privada, mas também uma boa dose de, digamos, jogo de cintura. “Para ganhar qualquer contrato, é importante uma certa intimidade com o cliente”, ensina a norte-americana Katie Pierozzi, 30 anos, gerente dos setores de inovação e tecnologia da agência.

Casada com um brasileiro, Katie é a mais extrovertida de um grupo formado por quatro gerentes de negócios e outros quatro profissionais que atuam na unidade de informação. Ao contatar um dos principais executivos da americana EMC, uma concorrente direta da IBM, a moça conseguiu quebrar a frieza do interlocutor ao descobrir que estudara na mesma universidade que a filha dele, no estado de Vermont. Durante os dias seguintes, grudou no sujeito. Levou-o para almoçar na churrascaria Porcão, falou sobre seu marido, sobre o desejo de ser mãe. E, há dois meses, foi visitá-lo em Boston. Na próxima semana, será anunciada a instalação do novo centro de pesquisas da empresa, numa área próxima ao da GE (veja outros exemplos no quadro abaixo). “Esse tipo de relacionamento acaba sendo um motivo a mais para eles se decidirem por um lugar em detrimento de outro”, opina Katie.

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A inspiração para a Rio Negócios veio de uma viagem do prefeito Eduardo Paes a Londres ? um roteiro que incluiu outras cidades olímpicas, como Atenas e Barcelona. Lá, ele se encantou com a Think London, agência de fomento que já atraiu mais de 7?000 contratos para a capital britânica. “Se até uma cidade como Londres segue à caça de novas oportunidades, percebi que precisávamos fazer o mesmo”, diz Paes. De lá mesmo, telefonou para o empresário Olavo Monteiro de Carvalho, atual presidente do conselho da Rio Negócios e um dos principais apoiadores da iniciativa. “Tive um arrepio com a ideia. Esses garotos dão o máximo de si e têm como filosofia de vida o profissionalismo”, diz Monteiro de Carvalho.

Em busca de um desempenho cada vez mais agressivo, o grupo recebeu há pouco mais de um mês um reforço de peso: o inglês Michael Charlton, ex-presidente da Think London, foi incorporado à equipe. Contratado como consultor internacional, ele trará sua experiência na utilização de grandes eventos de visibilidade global para atrair investimentos relevantes. Exatamente o que se espera que aconteça aqui com a Olimpíada de 2016. No momento, a Rio Negócios toca doze projetos em fase de conclusão que podem trazer mais 1,8 bilhão de reais para cá. Prova de que essa moçada não brinca em serviço.

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