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Blitz contra o crime

A polícia reage ao aumento dos assaltos na cidade com barreiras na rua e a antecipação da Operação Verão para conter arrastões

Por Ernesto Neves
Atualizado em 2 jun 2017, 13h00 - Publicado em 23 set 2014, 15h56

Traumatizado por anos de violência desenfreada, o carioca voltou a viver momentos de apreensão com o recrudescimento da criminalidade ? nesta semana, a paranoia disseminada entre a população chegou às alturas. No domingo passado (14), turbas compostas principalmente de adolescentes promoveram arrastões em diferentes pontos da orla do Arpoador e de Copacabana. Dois dias depois, a onda de assaltos fez mais uma vítima, dessa vez alguém carregado de simbolismo: o arcebispo da cidade, dom Orani Tempesta. Ele teve o carro fechado por bandidos armados na Estrada do Sumaré quando se dirigia ao bairro da Glória, na Zona Sul. Os ladrões roubaram um anel e uma cruz do religioso (que horas depois seriam recuperados), a máquina fotográfica de um assessor e o celular do motorista.

O assalto ao cardeal, ainda mais triste pelo significado de seu cargo, é apenas uma ocorrência a mais na lista de crimes contra pedestres, que vêm aumentando de forma significativa. Na categoria “roubo a transeuntes”, foram registrados pelo Instituto de Segurança Pú­blica, órgão responsável pelas estatísticas criminais do estado, 6?716 casos no mês de agosto. O número é 26% maior se comparado com o do mesmo período do ano passado (veja o quadro na pág. ao lado). Na Zona Sul, a situação piora, chegando-se a 50% a mais com relação ao que se verificou em agosto de 2013. “Tal qual um cobertor curto, a expansão mal planejada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) direcionou recursos às favelas, deixando outras áreas da cidade desprotegidas”, diz Paulo Storani, antropólogo e ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). “Os bandidos, então, migraram seu raio de atuação para lugares onde o patrulhamento ostensivo está deficiente”, conclui.

Daí que a Secretaria de Estado de Segurança, alvo de uma nova saraivada de críticas, vem reforçando a vigilância ostensiva. Uma das estratégias adotadas foi a antecipação inédita ? em três meses ? da chamada Operação Verão. Diferentemente de anos anteriores, ainda antes do fim do inverno cerca de 650 homens foram mobilizados e já podem ser observados caminhando pelas praias. Outra medida visível ao cidadão é a volta das blitze da Polícia Militar. Muito comuns durante as décadas de 80 e 90, período em que o Rio viveu o ápice da criminalidade, as barreiras policiais têm sido instaladas em pontos onde se vem notando um crescimento no número de assaltos.

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Somente no mês de agosto, 10?725 veículos e seus motoristas foram checados em blitze. O alvo principal são as motocicletas, devido a sua costumeira utilização em assaltos a mão armada. As operações estão sendo empregadas nos mais variados horários, inclusive durante a manhã. Geralmente são escolhidos pontos-chave de circulação. “Pela configuração geográfica peculiar do Rio, bairros como Copacabana podem ser completamente vigiados com apenas duas ou três barreiras”, explica o tenente-coronel Cláudio Costa, relações-públicas da PM. Não à toa, tem sido comum ver tais operações ocorrendo simultaneamente na Avenida Princesa Isabel e nas ruas Francisco Otaviano e Pompeu Loureiro, três das principais vias de acesso ao bairro. Em razão do intenso fluxo que concentram, também é uma constante haver barreiras na Avenida Marechal Rondon, no Riachuelo, na Radial Oeste, no Maracanã, e na Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa.

Se o atual momento inspira atenção, a adoção de uma estratégia de ações combinadas entre si é a chave para que a violência retroceda. Projeto iniciado em 2008, a implantação das UPPs resgatou bairros inteiros das garras do tráfico. Regiões antes praticamente sitiadas, como a Tijuca, na Zona Norte, viram índices de criminalidade despencar após as ocupações. Não se trata de desacelerar o programa. Mas, para que os avanços não sejam perdidos, será necessário aprofundar o investimento em setores como a inteligência policial, bem como o controle de fronteiras ? afinal, armas de alto calibre, como as empregadas recentemente no Complexo do Alemão contra policiais, não são fabricadas aqui. Também se deve intensificar a troca de informações entre a polícia Civil e a Militar. “É difícil conseguir resultados a curto prazo para conter os assaltos”, diz João Trajano, coordenador do Laboratório de Análises de Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “É fundamental que as autoridades monitorem pontos críticos e tracem planos para conter a migração da criminalidade”, explica. Com tantas conquistas nos últimos anos, não dá para titubear quando o que se tem em jogo é a segurança do cidadão.

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