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Elas gostam de apanhar…

...e de bater também. São as alunas de MMA, modalidade que saiu do octógono, ganhou as academias e conquistou as mulheres

Por Renan França
Atualizado em 5 jun 2017, 14h37 - Publicado em 7 mar 2012, 21h02

Como integrante do coro da Orquestra Sinfônica Brasileira, a soprano Marília Zangrandi está habituada a exibir sua voz suave no palco do Theatro Municipal. Mas seu timbre muda radicalmente quando está dentro de um octógono, espaço em que ela se transforma, fala alto e apresenta gestual bruto. Com o cabelo caprichosamente preso, quimono rosa e faixa azul na cintura, golpeia as adversárias até ficar esgotada. Marília transita com facilidade entre o canto lírico e a pancadaria das aulas de MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas, um eufemismo para o antigo vale-tudo). Não é um caso isolado. Diante da ampla difusão da modalidade, as principais academias cariocas abriram turmas femininas e mistas dedicadas a esse esporte em ascensão. O resultado é que o sexo, vá lá, frágil vem descobrindo os benefícios da luta para incrementar a boa forma, ainda que muitas das alunas saiam do treino com dores, hematomas e arranhões pelo corpo. ?Se estivesse preocupada em não me machucar, teria procurado o balé?, afirma a soprano, com humor. ?Não troco isso por nada.? (Na verdade, bailarinos também podem sofrer contusões.)

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As academias exploram um filão que vem crescendo com extrema rapidez. Afinal, o MMA virou um fenômeno de audiência e cifras. Assim como ocorreu com o boxe nas décadas passadas, os pugilistas que detêm hoje títulos mundiais faturam somas milionárias e seus combates são transmitidos para mais de 130 países, com um público estimado pelos organizadores em 600 milhões de espectadores. Tanta exposição provoca o aparecimento de novos praticantes. Mas não é só a visibilidade que tem tornado a prática sedutora para ambos os sexos. As aulas são especialmente cativantes para todos os que procuram uma atividade mais dinâmica que a musculação e, de quebra, querem eliminar os quilinhos extras. O gasto energético de uma sessão, em torno de 500 calorias, equivale ao de uma aula de spinning. Da mesma maneira que o esforço na bicicleta, o MMA trabalha o sistema cardiovascular e ajuda a dar tônus aos músculos, despertando o interesse de mulheres desejosas de esculpir barrigas tanquinho ou pernas torneadas. ?Meu corpo melhorou muito?, garante a estudante Fernanda Medeiros.

Evidentemente, a recompensa da silhueta escultural exige sacrifícios. As aulas abrangem diversas modalidades, entre as quais muay thai, boxe, jiu-jítsu e wrestling, um aparentado da luta livre. Cada sessão dura em torno de uma hora e começa com um aquecimento, geralmente uma corrida leve e alongamento. Depois, é hora de encarar o ringue para valer, com as moças aprendendo noções de soco, chute, imobilização, agachamento e queda, trabalhados à exaustão. ?Não existe uma formatação pronta. Os exercícios variam de acordo com as necessidades da turma?, explica a professora Ana Maria Soares, que, em paralelo aos ensinamentos, disputa competições profissionais de MMA. Independentemente do roteiro de exercícios, trata-se de um treinamento desgastante, que exige cuidados. ?Agregar a prática de lutas à atividade aeróbica é ótima opção?, diz o fisiologista Gustavo Casimiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). ?Mas é preciso respeitar o nível de condicionamento de cada um e adaptar o exercício para os amadores.?

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A exemplo do que acontece com os homens, as competições com as mulheres estão em expansão. Em janeiro, foi disputado em Porto Seguro (BA) o primeiro torneio do país. Fez tanto sucesso que no próximo sábado (10) será realizada a segunda edição, em Campos, no norte do estado. Repetindo a boa performance da categoria masculina, o Brasil vai bem nessa seara. Hoje, a melhor competidora do mundo é a curitibana Cristiane Cyborg, campeã do Strikeforce, o mais importante torneio feminino.

Embora já existam disputas profissionais, a opção delas por seguir uma carreira nos ringues levanta muita polêmica. Um dos maiores opositores à presença feminina nos octógonos é o lendário Rorion Gracie, criador do Ultimate Fighting Championship (UFC) e membro do clã que se transformou em sinônimo de jiu-jítsu no mundo. ?Sou a favor das mulheres no treinamento, para seu benefício corporal e de saúde. Mas reprovo vê-las no tatame sangrando e desferindo socos uma na outra?, ressalva o mestre. Nas lutas entre elas, as regras são praticamente as mesmas. A única exceção é a proibição aos golpes nos seios. Adepta do esporte, primeiro como espectadora e depois como aprendiz, a empresária Adriana Borges não pensa em seguir carreira, mas alimenta um sonho de mãe pouco comum: ela quer que a filha, Lovisa, de 9 anos, adote a modalidade. Parece que, com alguma graça e muita troca de sopapos, o MMA de saias veio para ficar.

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