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De portas fechadas

O aumento do preço dos aluguéis em áreas valorizadas da Zona Sul provoca o êxodo de bares e restaurantes para shoppings e bairros vizinhos

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h47 - Publicado em 21 out 2011, 15h41

Quando inaugurou a lanchonete Andy’s, o empresário André Cunha Lima tinha uma ideia em mente: fazer da casa uma vitrine que se desdobrasse em diversas filiais, exatamente como em seu outro negócio. No caso, a rede de hamburguerias Joe & Leo’s, com unidades no Rio, em Campinas e Porto Alegre. Entre as estratégias traçadas para disseminar a nova marca estava a escolha de um ponto que desse visibilidade aos seus sanduíches. Ele não titubeou. Elegeu o Leblon, onde estão alguns dos estabelecimentos mais concorridos da cidade. A loja aberta em 2009 na Avenida Ataulfo de Paiva fechou as portas no último dia 2. Um dos motivos para a decisão foi o preço do aluguel: 15?000 reais por mês pelo espaço de apenas 60 metros quadrados. Longe de ser uma exceção, a mudança da casa faz parte de um fenômeno que vem abalando o mercado gastronômico carioca. Com a crescente especulação imobiliária e o reajuste exagerado por parte dos proprietários, muitos empreendimentos estão sendo expulsos das áreas mais nobres da Zona Sul. “Seria preciso aumentar as vendas em 20% para sair do vermelho”, estima Cunha Lima.

Além das exigências de alguns senhorios, a explicação para a debandada está na raiz do negócio de comida, em geral mais oneroso do que outras atividades. Para começar um restaurante é necessário investir na montagem de uma cozinha, com potente sistema de exaustão e câmaras frigoríficas. O valor da mão de obra também é invariavelmente mais elevado do que em outros segmentos. “Com um aluguel exorbitante, o empreendimento fica, de fato, inviável”, confirma Pedro de Lamare, presidente do sindicato da categoria. De acordo com o Secovi Rio, entidade que atua no mercado imobiliário, o valor médio da locação por metro quadrado comercial em bairros como Ipanema e Leblon é de 120,91 reais. Mas esse número pode variar muito, conforme a localização. Em alguns casos, pode até triplicar. Para quem está à procura de um ponto, a situação é ainda mais complicada. Isso porque existem as luvas, uma espécie de entrada inicial, apenas para instalar-se no local. Não raro, elas chegam a 1,5 milhão de reais. Esse, por exemplo, é o valor pedido pela proprietária do número 135 da Rua Dias Ferreira, uma unidade com cerca de 150 metros quadrados e aluguel de 20?000 reais.

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A solução, ainda que temporária, é recorrer à Justiça. No Carlota, a chef Carla Pernambuco foi surpreendida quando a dona do ponto, de somente 70 metros quadrados, anunciou que o pagamento mensal subiria de 20?000 para 35?000 reais – ou seja, 500 reais por metro quadrado. No caso do Quadrucci, o preço do aluguel também aumentou, e muito: nada menos que 300%. Próximo dali, a loja de chocolates Aquim vive drama semelhante. Fechada para reforma, ela pode nem reabrir caso o valor cobrado pela locação seja realmente triplicado. “O dono não quer nem negociar”, lamenta Rodrigo Aquim. Assim como outros colegas, ele está com o processo de renovação na Justiça, em busca de um acordo favorável para continuar em funcionamento. O problema é que, nos três casos, os reajustes pretendidos pelos proprietários ultrapassam os 10% do faturamento, porcentagem-limite para a saúde financeira de um estabelecimento.

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Impossibilitados de arcar com custos tão altos, muitos restaurateurs têm buscado alternativas para viabilizar e expandir seus negócios. Uma delas é a migração para shoppings, onde os aluguéis são mais baratos e há a garantia de um fluxo constante de clientes, além de facilidades como estacionamento e segurança. De fato, nos últimos cinco anos, as praças de alimentação foram cedendo espaço, aos poucos, para restaurantes mais sofisticados. No BarraShopping, o público encontra grifes como Antiquarius, Garcia & Rodrigues, Le Vin e Zuka. O Aquim já fechou contrato para se instalar no Village Mall, que será inaugurado em 2012, enquanto o Andy’s reabre até dezembro em outro centro comercial da Zona Sul. Fora os shoppings, resta sempre a opção de procurar bairros menos concorridos, mas com boa localização, caso de Botafogo e Humaitá. Além de terem aluguéis e taxas menores, são regiões em que há negócios recém-inaugurados e já bem sucedidos, entre os quais os bares Ambre e DoiZ. Tais fatores foram fundamentais para que o chef Pedro de Artagão, ex-Laguiole, decidisse onde instalaria seu novo restaurante. “A saí­da é explorar novas vizinhanças, como fizeram em Nova York e Buenos Aires”, diz. A receita pode dar certo.

[—FI—]

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