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No baú do mestre

A catalogação do acervo de Millôr Fernandes revela obras de um artista múltiplo, e genial em todas as facetas

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 2 jun 2017, 13h13 - Publicado em 5 fev 2014, 15h56

Millôr Fernandes (1923-2012) ainda era um garoto na década de 30, quando publicou um trabalho na imprensa pela primeira vez. Estimulado por um tio, enviou uma ilustração ao periódico carioca O Jornal, que acabou aceita e lhe rendeu um pagamento de 10?000 réis. A partir de então, o desenho se tornaria parte indissociável da carreira desse estupendo profissional que abrilhantou a cultura, o jornalismo e o humor brasileiros. Aproximadamente 7?000 dessas obras estão, desde fevereiro do ano passado, sendo inventariadas, digitalizadas e catalogadas pelo Instituto Moreira Salles (IMS) ? a quem o filho mais velho de Millôr, Ivan Fernandes, delegou a tarefa de gerenciar a produção pictórica do pai. Sem data para terminar, a empreitada tem seus primeiros frutos revelados com exclusividade por VEJA RIO: quatro desenhos, apresentados nestas páginas. “Eles revelam a diversidade de técnicas, além daquele humor que permeia quase toda a obra do Millôr”, diz Julia Kovensky, coordenadora de iconografia brasileira do IMS.

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O acervo também inclui documentos, recortes de jornais e manuscritos, além de 101 volumes encadernados, que contêm páginas com traços e textos do artista, destacados dos diversos veículos nos quais trabalhou ? entre eles VEJA, de 1968 a 1982 e de 2004 a 2009. Antes mesmo da conclusão do trabalho do IMS, uma fatia desse volumoso material poderá ser apreciada pelo público. Uma primeira leva de ilustrações, publicadas na revista Pif-Paf, em 1964, deve ser disponibilizada no site do instituto ainda em fevereiro. Anunciada para julho, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que vai homenagear Millôr, contará com o suporte iconográfico desse acervo. Ainda neste ano, será lançado um livro com desenhos selecionados pelo cartunista Cássio Loredano, que é consultor no trabalho de catalogação. Por fim, está prevista para 2015 uma grande exposição na sede do instituto, na Gávea.

São tributos tão variados quanto as vocações do homenageado, homem de múltiplos talentos, que publicou mais de 120 livros, escreveu cerca de oitenta peças, traduziu outras tantas e trabalhou nos veículos de imprensa mais importantes do país desde os tempos de O Cruzeiro, no qual ingressou em março de 1938. Sua versatilidade se reflete inclusive na variedade de técnicas presentes em seus desenhos. No acervo em posse do IMS há trabalhos em nanquim, guache, aquarela, crayon, lápis de cor e até impressões em jato de tinta, além de colagens. Quase todos são chistes visuais, muitos evocando influências assumidas de Millôr, como o cartunista americano Saul Steinberg. Em um deles, um empresário lamenta aos colegas: “Senhores, temos que admitir que, afinal, a recessão também nos atingiu. Este trimestre nossos lucros voltaram ao normal”. Humor sofisticado e certeiro de alguém que, em um de seus famosos aforismos, disse: “Sou um humorista nato. Muita gente, eu sei, preferiria que eu fosse um humorista morto, mas isso virá a seu tempo. Eles não perdem por esperar”. Suas tiradas definitivas, porém, não morrem jamais.

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