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A vida por um fio

Tem gente que não quer saber de turismo ao pé da letra e usa o bondinho como palco de aventuras radicais, comerciais e até musicais

Por Paulo Vasconcellos
Atualizado em 5 jun 2017, 14h19 - Publicado em 31 out 2012, 20h12
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Bondinho do Pão de Açúcar, modo de usar ? se esse cartão-postal viesse com bula, ela teria de ser liberal, sem amarras. É claro que o grupo mais robusto de frequentadores sempre foi formado por turistas comuns, que, seguindo um ritual básico, se deliciam com a paisagem, fazem compras, tiram fotos e voltam, felizes e maravilhados, para o respectivo hotel. Mas há uma pequena fatia de frequentadores cuja proposta pode ser tudo, menos fazer turismo. Nos anos 70, um equilibrista decidiu andar a pé pelos cabos, desafiando a morte. Queria aparecer. Mais recentemente, um cidadão contratado por cartão de crédito se jogou lá de cima de bungee jumping. A propaganda ficou ótima, mas foi mesmo uma temeridade.

O multiúso que se faz do complexo formado pelos morros que rodeiam o bondinho inclui ainda os alpinistas. Quase todo dia, se as condições climáticas forem favoráveis, tem alguém escalando o Morro da Urca, o próprio Pão de Açúcar e a desafiadora face de pedra do Morro da Babilônia ? nesse último, a subida dos desbravadores gera uma visão impressionante de quem está em terra. Os turistas que desembarcam dos ônibus na pracinha em frente aos guichês se arrepiam quando observam aquela gente de roupa colorida em contraste com o cinza da montanha. Temendo pelos escaladores, que realmente dão a impressão de que a qualquer momento acabarão caindo, ficam com frio na barriga e param de olhar. Mas não adianta dizer que é arriscado: esse esporte vem se disseminando, e hoje já são três empresas a oferecer aulas e acompanhamento aos aspirantes a alpinista (veja o quadro na pág. 11).

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No entanto, nenhuma aventura radical por encosta alguma das montanhas da Urca consegue rivalizar com o que fez, em 1977, o americano Steven McPeak. Ele caminhou por 735 metros, passo a passo, a quase 400 metros do solo, sem paraquedas, sem capacete nem proteção alguma, em cima do cabo principal. Para manter o equilíbrio, usava uma vara metálica de quase 20 metros, com a bandeira do Brasil e a dos Estados Unidos nas pontas. Em março passado foi a vez de Luís Roberto Tapajós, carioca de 42 anos, viver perigosamente no bondinho. Ele saltou de bungee jumping do vagão, de uma altura de 300 metros, para campanha publicitária do Citibank. A filmagem levou dois dias e só podia ser feita dos primeiros raios de sol até as 8 da manhã, quando o sistema está parado. O salto em queda livre não durou nem quatro segundos, mas rodou as TVs do planeta.

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Quando o assunto é marketing, o bondinho se revela um excelente garoto-propaganda. Ajudou a divulgar, por exemplo, uma exposição em homenagem ao piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, tricampeão mundial: a réplica de um carro da escuderia pela qual teve mais vitórias, a McLaren, foi içada pelos cabos do teleférico. Da mesma forma, a Volkswagen, em 2005, pendurou o compacto esportivo CrossFox. Até mesmo cabeças de gado premiadas já subiram, uma a uma, certa vez, para um leilão milionário.

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Mas não foram vacas, nem bois, nem carros de corrida que formaram a tropa de maior sucesso nessa subida até a estação central. O bondinho tornou-se, ao longo da década de 80, a condução que levou às estrelas ? quase no sentido literal ? uma geração inteira de músicos. A turma que fundou as bases do rock brasileiro debaixo da lona azul do Circo Voador, no Arpoador, em 1982, se abrigaria, tempos depois, sob a concha verde do Morro da Urca. Ali, dentro do projeto Noites Cariocas, capitaneado pelo jornalista, letrista e produtor musical Nelson Motta, fizeram shows a Blitz, o Barão Vermelho, Lulu Santos e Rita Lee, entre outros ícones do rock nacional. O compositor Leo Jaime, que estava lá, hoje sintetiza assim a fase de ouro do palco nas alturas: “Mais do que cariocas, aquelas foram noites brasileiríssimas”.

Atualmente, o projeto Verão do Morro, com espetáculos acontecendo após o Carnaval, segue levando artistas de ponta ao anfiteatro ? onde cabem 2?000 espectadores. Também costuma haver shows de forró e bailes a fantasia. Mais gente ainda se reúne no último dia do ano. O réveillon vem sendo concorrido (no Morro da Urca é um preço, no alto do Pão de Açúcar é mais caro, pois de lá se avistam os fogos de Copacabana), e neste ano do centenário estará especialmente animado, com a participação da bateria do Salgueiro, de DJs como Matheus Puertas e Janot e da banda Soul de Quem Quiser.

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