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Urbanismo tático: uma nova maneira de enxergar as ruas do Rio

O Rio passa a ser palco de um jeito rápido e barato de testar soluções para equacionar gargalos pontuais das grandes cidades

Por Saulo Pereira Guimarães
Atualizado em 4 abr 2020, 17h13 - Publicado em 3 abr 2020, 12h00

A Times Square, cartão pulsante de Manhattan, colecionava acidentes de trânsito no encontro de avenidas margeadas de lojas e teatros luminosos. Era um caos urbanístico que comprometia o vaivém de turistas que iam até lá respirar o ar da Broadway. Aí, a prefeitura de Nova York resolveu fazer um experimento: fechou a área para veículos nos fins de semana e, crème de la crème, espalhou ali cadeiras de praia à vontade.

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O ensaio deu tão certo que, em 2014, as marcações provisórias se tornaram permanentes, abrindo-se no local um espaço de lazer que contrasta com o concreto e orna muito bem com o verão nova-iorquino. Esse é um bem-sucedido exemplo de urbanismo tático, termo que começou a circular no meio dos magos das pranchetas há alguns anos e desembarca com força e graça no Rio de Janeiro.

Essas ações, também chamadas de acupunturas urbanas, nascem como iniciativas temporárias de pequeno porte e baixo custo. Se dão certo, viram permanentes, como ocorreu na Times Square. Um dos motores desse tipo de estratégia no Rio é o Laboratório de Intervenções Temporárias e Urbanismo Tático, nome comprido para se referir ao animado núcleo baseado na faculdade de arquitetura da UFRJ (FAU) e vinculado ao programa

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Novos usos para espaços públicos: na Tijuca (foto maior e acima), intervenção alargou calçadas e propôs criação de jardins; na Praça Tiradentes (à esq.), vaga de estacionamento virou tabuleiro de jogos de pós-graduação em urbanismo. A turma é formada por professores e alunos que ficam mergulhados em projetos com o objetivo de espalhar pela cidade mais áreas convidativas por onde caminhar, percorrendo assim trilha parecida à de grupos alojados em universidades de vários cantos. “A ideia central é criar espaços amigáveis e seguros para os pedestres”, explica a professora Adriana Sansão, coordenadora do núcleo. Entenda-se, por isso, mais praças, ruas fechadas para o lazer e até a ocupação de áreas abandonadas que podem se prestar bem a atividades culturais.

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Está funcionando ó e isso certamente ajudará a dar impulso a outras iniciativas de mesma natureza nos mais variados bairros cariocas, todos sequiosos de áreas livres de carros. “Já temos uma lista de locais onde vamos atuar, da Zona Norte à Oeste”, adianta Adriana.  A vantagem do urbanismo tático é que se podem testar hipóteses de forma barata e ágil, sem passar por toda a máquina pública pesada que muitas vezes emperra as mudanças. Isso não significa que esferas do poder não tomem parte no processo ó só que ele se desenrola de forma diferente. Em alguns casos, o laboratório é acionado pela prefeitura; em outros, pelos próprios moradores interessados em mudar os destinos de seu entorno.

Vaga de estacionamento virou tabuleiro de jogos (Stefano Aguiar/Veja Rio)

Um conjunto de ONGs também tem o foco aí. A ligeireza para pôr ideias em prática se explica justamente por seu caráter temporário (ao menos em sua origem). Para se ter uma ideia da envergadura das ações, no rol dos materiais para a demarcação provisória estão itens tão simples como placas, cones, pneus. Se o projeto se demonstrar bem-sucedido na vida real, aí, sim, ganhará argamassa e tijolo (ou aço, vidro…). Bebendo da fonte de cidades mundo afora, o programa Paradas Cariocas, por exemplo, tornou-se definitivo: trata-se da criação de espaços com mobiliário urbano instalado em calçadas que viram uma espécie de sala de estar ao ar livre. Evidentemente, o urbanismo tático não pode ser aplicado em todas as chacoalhadas urbanísticas.

Uma coisa é reanimar uma favela como o Morro da Babilônia, no Leme, preenchendo seus muros com receitas de pratos à base de ingredientes sustentáveis, uma ideia da chef Regina Tchelly para divulgar o que chama de “gastronomia consciente”; outra é edificar pontes ou racionalizar um sistema de trânsito. “O urbanismo tático funciona bem para equacionar problemas pontuais dentro de um bairro”, enfatiza a VEJA RIO o americano Mike Lydon, eleito em 2018 um dos 100 mais influentes urbanistas do mundo e coautor do clássico sobre o tema Tactical Urbanism. Isso posto, mãos à obra.

Uma tática mundial: pequenas iniciativas que solucionaram grandes problemas em três cidades

(WRI INDIA/Veja Rio)

Em Mumbai, na Índia, faixas e espaços para pedestres ajudaram a diminuir a distância entre os cruzamentos das vias, reduzindo o número de incidentes de trânsito no local.

Com a abertura para pedestres da Times Square, em Nova York, o número crescente de acidentes na região diminuiu e fez com que a iniciativa se tornasse permanente.

(Manuel Massimo/Veja Rio)

Em 2015, ciclistas pintaram uma ciclovia entre os distritos de Esquilino e San Lorenzo, em Roma, o que estimulou a criação de um anel cicloviário na cidade no ano seguinte.

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