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Por Marcelo Copello, jornalista e especialista em vinhos
Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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Henri Jayer – o eterno mestre da Borgonha

O mundo de BACO é mesmo infinito e cheio de curvas e becos.

Por Marcelo Copello Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 Maio 2017, 18h00

Por Marcelo Copello

O mundo de BACO é mesmo infinito e cheio de curvas e becos. Alguns vinhos são tão raros que são quase secretos. Tenho certeza que meus leitores já ouviram falar de Pétrus e Romanée-Conti, mas provavelmente não são todos que conhecem Henri Jayer. Recentemente uma lista dos vinhos mais caros do mundo foi divulgada pelo site wine-searcher.com e muitos ficaram surpresos ao ver no topo da lista o Borgonha Richebourg, do produtor Henri Jayer, superando o Romanée-Conti, o segundo, e em terceiro outro vinho de Jayer, o Vosne-Romanée Cros Parantoux. Esta constatação no preço só comprova o que já se sabia na taça, que Jayer consegue a façanha de superar o mítico Romanée-Conti.

Falecido em 2006 aos 84 anos, este foi talvez o mais reverenciado produtor de vinho da segunda metade século XX. Em poucas décadas (de trabalho àrduo) Jayer conseguiu produzir Borgonhas que rivalizam (ou até superam) em qualidade e preço, nomes míticos e com muito mais tradição, como o citado La Romanée-Conti.

Jayer começou a produzir vinhos em 1945, na vila onde nasceu, Vosne Romanée, usando em parte vinhedos herdados de sua família e em parte um vinhedo arrendado da família Camuzet, proprietários na região. Jayer cuidava deste vinhedo, o Cros-Parentoux, até então semi-abandonado (já havia sido usado para plantar tubérculos durante a Segunda Guerra), em troca de metade da produção.

Apesar de ser vizinho do famoso vinhedo Richebourg, até Jayer pôr as mãos no Cros Parentoux este vinhedo de apenas 1,1 hectare, era considerado de segunda categoria, por sua altitude (acima do Richebourg) e solo pobre com excesso de pedras. Jayer, que usou explosivos para se livrar das pedras, cuidou deste vinhedo meticulosamente por décadas, em parceria com a família Camuzet, de quem foi aos poucos comprando parcelas. Jayer usava o vinho para misturar em outros até que em 1978 (um grande ano), engarrafou pela primeira vez um vinho com 100% de uvas dali, apenas 3.500 garrafas, ostentando no rótulo o nome Cros Parantoux.

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A partir desta safra a fama decolou, a de Jayer e a do vinhedo, e, apesar de ser classificado “apenas” como Prémier Cru, o Cros Parantoux tournou-se mais caro e disputado que muitos Grands Crus. A técnica de Jayer, hoje comum mas na época inovadora, consistia em “fazer o vinho no vinhedo”, controlando rendimentos, não usando fertilizantes, além de usar leveduras indígenas, maceração pré-fermentativa à frio, desengaçar totalmente suas uvas e não filtrar seus vinhos.

A última safra de Jayer foi em 2001, desde então os vinhos são feitos por seu sobrinho, Emmanuel Rouget, que herdou seus vinhedos e que, seguindo a tradição da região, não usa mais o nome Jayer nos rótulos e sim seu próprio nome. Os vinhos de Jayer sempre foram raros, de produção ínfima. Mas hoje, 14 anos após sua última safra, é mais fácil encontrar o o cálice sagrado ou um unicórnio do que um Jayer à venda. Os preços são altos e o risco de uma falsificação deve ser seriamente considerado. Uma opção para os que querem conhecer seu estilo é provar os vinhos de seu sobrinho, Rouget, ou de seu discípulo Jean-Nicolas Méo (da Méo-Camuzet), que também são os únicos donos de parcelas do famoso Cros Parentoux. (Veja amanha uma entrevista inédita com Jean-Nicolas Méo)

Tive a excepcional oportunidade de provar uma horizontal de 1985, um grande ano, com três vinhos de Jayer, entre eles o afamado Crox-Parantoux. Grato aos que comigo compartilharam estas maravilhas, ficam aqui minhas impressões da prova.

 

Henri jayer Vosne Romanée 1er cru Les Brûlées 1985

De cor granada entre clara e escura. O mais discreto, mais magro e mais mineral no nariz dos três vinhos provados, excepcional complexidade, pureza e profundidade, com notas de musgo, frutas maduras muito bem delineadas, na boca é uma perfeição, de incrível riqueza, com taninos aveludados e finíssimos, equilíbrio perfeito.

NOTA: 98 pontos

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Vosne Romanée 1er cru Beaumonts 1985

De cor granada entre clara e escura. O mais quente, encorpado e expressivo do trio, exuberante, complexo, com notas de terra molhada, frutas negras, frutas secas e passas, muitas especiarias, fundo mineral, paladar macio, com grande integração entre todos os seus elementos, taninos finos, acidez boa, com profundidade, ocupa todos os espaços do palato com grande delicadeza e com grande finesse. Perfeito.

NOTA: 100 pontos

 

 

 

 

 

 

Vosne Romanée 1er cru Cros-Parantoux 1985

De cor granada entre clara e escura, brilhante. Um pouco mais macio e menos encorpado que o Beaumonts, mais quente que o Brûlées, o mais jovial dos três, ainda com taninos e acidez bem presentes, vivíssimo. No nariz é intenso, de grande complexidade e uma pureza de aromas que poucas vezes encontrei em um vinho, com notas de cravo, alcaçuz, defumados, frutas negras maduras, notas balsâmicas, mineral terroso bem marcado. Perfeição na boca, bastante concentrado, mas de incrível leveza, maciez e elegância, extremamente longo. Em teoria este seria uma espécia de versão mais leve e elegante do Richebourg. Emocionante provar um vinho desta qualidade, refinamento, raridade e com uma bela história. Realmente rivaliza com os vinhos da mítica Domaine de la Romanée-Conti

NOTA: 100 pontos

Leia também: Enoturismo na Borgonha, dicas e roteiro

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