Decidida, passando por cima da enorme timidez, a menina de 9 anos, gorducha e com vergonha de sorrir por conta dos dentes tortos, pedia sem pestanejar ao jornaleiro:

– Chico Bento, Mônica, Cascão e Cebolinha, por favor.

Com a leitura do fim de semana garantida, ela se despedia de Marquinhos, cuja banca ficava numa esquina de Copacabana, perguntando se devia alguma coisa.

– Que nada! O seu avô já acertou tudo.

E o ritual se repetia sempre que saía um novo gibi da Turma da Mônica.
Quase 30 anos depois, aquela menina que lia até alta madrugada e inventava e escrevia histórias nas horas vagas realizou um sonho: conheceu o pai da turma que lhe fazia companhia na infância. Mas não só ele.

– Não acredito! A Magali! Posso ir lá falar com ela, Mauricio?

E assim, quicando de ansiedade, a mulher de 38 anos virou criança ao dar de cara com a comilona mais charmosa dos quadrinhos no estúdio dele, Mauricio de Sousa.

– Claro que pode, Thalita!
– Ai, Mauricio, ainda não acredito que você sabe meu nome!
– Não apenas sei seu nome. Quero trabalhar com você.
– Ai, que fofo, você é muit… Magaliii! Não vai embora, espera!

E assim, com um sorriso escancaradamente infantil, corri na direção da Magali. Podem falar o que quiser, não era uma mulher vestida de Magali. ERA a Magali! Ela circula pelo estúdio como se fosse uma pessoa normal, não uma megasuperblaster celebridade, maior do que Angelina, Brad e Beyoncé juntos!
Mas não parou por aí!

– Onde estão o Cebolinha e a Mônica? Chama os dois para conhecerem a Thalita – pediu Mauricio para um assessor.

Sim, as frases acima foram ditas como se fossem as frases mais normais do mundo! Sim, eu dei um ataque de perereca ao ouvi-las! Sim, eu tinha 9 anos de novo.
Meses depois, ficava pronto Ela Disse, Ele Disse – O Namoro, com a participação da Turma da Mônica Jovem. Depois de três anos de namorico, eu e Mauricio casamos com este livro, que sai agora na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Tem gente que acha chique namorar a Madonna. Para mim, chique mesmo é ser lida por Mônica e companhia. Chiquérrimo.
E lá estou eu, mais uma vez, com a danada Tensão Pré-Bienal, ansiosa, empolgada, coração batendo forte, louca para saber o que os leitores vão achar de mais esse trabalho.
No dia em que recebi o primeiro exemplar, estava no táxi e não conseguia parar de chorar. Liguei para o meu marido, chorei. Falei com a minha editora, chorei. Com amigas queridas, mais lágrimas. E tome de beijar o livro, abraçar o livro, namorar o livro, babar no livro.

– A senhora me desculpa… – o motorista não resistiu. – Esse livro é sobre o quê?
– É sobre namoro de adolescentes. Eu escrevo para adolescentes. Acabou de chegar, eu achei que só ia vê-lo semana que vem, mas a minha editora fez surpresa! E é com o Mauricio de Sousa! Estou tão feliz! – desandei a falar.

Quando paramos no sinal, ele pediu:

– Posso ver?
– Claro! – disse, entregando a ele meu novo amor.

Ele olhou para o livro, olhou para mim pelo retrovisor, olhou para o livro novamente, virou-se para olhar para mim sem espelho dessa vez.

– A senhora não pode ser a Thalita Rebouças. A senhora é muito nova!

Que delicadeza! O motorista está fazendo a linha bacana, dizendo que conhece a passageira por simpatia, pensei.

– Obrigada pelo ‘muito nova’.
– A minha filha vai morrer quando souber que a senhora andou no meu táxi hoje. Ela tem todos os seus livros! E viu sete vezes a sua peça!

Opa! O taxista me conhecia mesmo. Não era simpatia. Fiquei mais feliz ainda, se é que isso era possível.

– Gasto muito dinheiro com a senhora! – contou. – Mas gasto com gosto.
– Obrigada – agradeci, tímida como a menina de 9 anos do primeiro parágrafo, mas com vontade de encher de beijos o motorista fofo.
– Quem diria que a Thalita Rebouças vira criança quando vê seu livro novo pela primeira vez… Quem diria…

Viro mesmo. Há 13 anos é assim que fico, sempre, tive vontade de dizer, mas chegamos ao meu destino, o Baixo Gávea, onde fui encontrar, por uma linda coincidência, amigos de infância que não via há tempos.
Saí do táxi secando lágrimas da mais plena felicidade. Lágrimas de mais um livro chegando, de novas emoções a caminho, de certeza de que sonhos se realizam. Lágrimas de criança grande. Respirei fundo e quando entrei no bar tinha voltado a ser adulta.

– Olha issooooo! Meu livro novoooo! Mauricio de Sousaaaaa! Aaaaaaah! – comemorei com velhos e bons amigos, que pularam e voltaram no tempo comigo, entendendo cada centímetro da minha emoção e das vogais prolongadas.

Eu disse adulta? Adolescente, e não se fala mais nisso.

Para ver como foi o lançamento em São Paulo, clique aqui!

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