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Maysa

Meu mundo caiu E me fez ficar assim Você conseguiu E agora diz que tem pena de mim. O último dia 6 marcou mais um aniversário de Maysa: 80 anos! Não consigo enxergá-la com essa idade. Principalmente naqueles últimos dias de sua vida, os primeiros de 1977, aos 40. Hoje, olhando as fotos da época, custo […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 17h29 - Publicado em 11 jun 2016, 01h00

Léo Martins

Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim.

O último dia 6 marcou mais um aniversário de Maysa: 80 anos! Não consigo enxergá-la com essa idade. Principalmente naqueles últimos dias de sua vida, os primeiros de 1977, aos 40. Hoje, olhando as fotos da época, custo a acreditar que o vendaval cessou. Afinal, ela estava com tantos planos, correndo atrás dos seus sonhos. E como corria, Deus meu! E como sonhava!

Era polêmica, despertava admiração e inveja, amor e ódio, como todos os artistas que ousam ficar também populares.

Cantava para matar o tédio, diziam alguns. Tédio de moça bonita, rica e triste. E, como se isso não bastasse, tinha Matarazzo no nome, o que era uma chancela, um diploma, uma medalha de mérito.

— Essa tem tudo! — exclamavam alguns.

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— Nem por isso é feliz — completavam outros.

Dizia-se que Maysa era criação de um deus com mania de grandeza, já que a todos os atributos acima se somavam dois ainda mais raros: o de compositora — letras e músicas — e o talento, exercido com voz sem igual, única. Inconfundível e inesquecível.

Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você nem a ninguém
Não fui eu que caí.

Maysa vivia numa linda casa, cercada de jardins, obras de arte, criados, amigos e muitos artistas. Maysa recebia para drinques e comidinhas nos fins de semana. Não fazia convites nominais. Quem era próximo sabia dos saraus. A música era o prato principal. E por lá desfilavam grandes nomes que passavam por São Paulo, como Edith Piaf, que eu tive a felicidade de conhecer e ouvir numa dessas noites festivas, em que ela vinha da boate Lord, onde fez uma temporada de grande sucesso, a que eu assisti de camarote, todas as noites, e que eu prometo contar um dia aos meus possíveis leitores.

Maysa tinha uma vida pública escancarada, sem regras. Agressiva e doce. Era única. Os homens que a rodeavam, mais do que amantes e amigos, eram devotos. E as mulheres desses homens ficavam inseguras e entravam em pânico quando Maysa percorria a plateia doméstica com seus olhos de cristal. Era um perigo.

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Fotos são reveladoras. Denunciam o retratado, basta que se queira ver, e não apenas olhar. Façam uma experiência. Peguem a foto de um grupo de pessoas. As fotos escolares, por exemplo, aquelas que fazemos ao fim de cada ano, alinhados ao redor dos professores. Olhem bem para cada rosto que está ali, todos cheios de vida. Percebemos, sentimos os coleguinhas que já não vivem. É comum que se diga sobre um desses rostos:

— É, o rostinho dele era triste, não parecia muito feliz.

Em seu rosto de jovem já está visível a sua morte. Delírio meu?

Pode ser, mas acredito que todos nós vemos sinais nas imagens que não entendemos de imediato, que têm significados ocultos, muito além do óbvio.

As fotos de Maysa. Quanto sofrimento e quanto amor! Não queria morrer, não, apesar de viver sempre a um passo do abismo.

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Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar.

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