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Blog do novelista Manoel Carlos
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Acha que dá?

  A realidade é a principal fonte inspiradora da ficção. E acredito que o inverso também faça sentido. Não sei por qual gesto de magia um fato produz — mais dia, menos dia — um episódio verdadeiro, vale dizer: jornalístico. Quantas vezes ouvimos alguém contar uma boa história numa roda de amigos e um deles exclamar: […]

Por fernanda
Atualizado em 25 fev 2017, 17h27 - Publicado em 9 jul 2016, 01h00

Leo Martins

 

A realidade é a principal fonte inspiradora da ficção.
E acredito que o inverso também faça sentido.
Não sei por qual gesto de magia um fato produz — mais
dia, menos dia — um episódio verdadeiro, vale dizer: jornalístico. Quantas vezes ouvimos alguém contar uma
boa história numa roda de amigos e um deles exclamar:
— Caramba! Que história boa. É verdadeira?
— Bem, meu pai contou como tendo acontecido
com um tio dele, em Niterói, há muitos anos!
E assim essa história será passada adiante.
É claro que com as mudanças que cada um acrescentar.
— Quem conta um conto…
— Pois é. Pergunto: a partir de então, de quem será essa história de ficção inspirada por um caso real?
— Não existe nada 100% real.
— Assim como numa história inventada nem tudo é ficção.
— “Nada se sabe, tudo se imagina”, como escreveu Fernando Pessoa numa das odes de Ricardo Reis.
— Pura verdade.
Algumas semanas depois, no café Severino, estava eu almoçando quando uma mulher se postou à minha frente, perguntando sem rodeios:
— O senhor me dá um minuto de atenção?
E, sem esperar resposta, sentou-se.
— Sou escritora. Tenho muitas ideias para novela.
— Ah, é? Parabéns.
— Vou ler para o senhor uma das minhas ideias e o senhor vai dar sua opinião sincera. O.k.?
E, mais uma vez sem esperar por uma resposta,
abriu um caderno e leu:
“Alice quer se separar do marido porque se apaixonou
por outro homem. Nunca pensou que isso pudesse acontecer. Começa a fazer comparações entre os dois, com desvantagem para o marido. Da vida dupla e atormentada que passa a levar, só quem sabe de tudo, em detalhes, é sua irmã Márcia, dez anos mais nova. Alice engravida do amante e resolve abrir o jogo com o marido. Combinam um jantar num lugarzinho que conhecem desde o tempo do namoro. Aí ela recebe um recado do médico da família, que quer lhe falar. É quando fica sabendo que o marido está muito doente, com pouco tempo de vida pela frente, e que está escondendo o diagnóstico para poupá-la. Alice então engole a confissão de adultério que pretendia fazer e termina a relação com o amante. A irmã desaparece de vista em seguida ao enterro do cunhado. E Alice fica sozinha. Sofre uma hemorragia por stress, abortando. Passado um tempo,
já refeita e disposta a recomeçar a vida, ela vai atrás do outro, sua grande paixão. E o encontra casado, a mulher esperando
o segundo filho. Quem abre a porta para Alice é a irmã Márcia, com quem ele está vivendo dias muito felizes.
Para encerrar, falou: com a Alice ainda não sei o que fazer: se entra para um convento ou se parte para uma viagem
cheia de aventuras e sem volta.
Pausa.
Ela continuou me olhando por alguns segundos.
— E aí, gostou?
Eu hesitei diante daquela brusca convicção da minha provável nova colega.
— Gostei… A história é sua mesmo?
Ela sorriu.
— Totalmente minha. E verdadeira, vivida por mim!
Eu sou a Alice, tudo isso aconteceu comigo.
— Jura?
— Incrível, não? Me diz francamente: acha que
isso dá novela?

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