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Luto

Leia na crônica de Manoel Carlos

Por Fernanda Torres
Atualizado em 25 fev 2017, 17h13 - Publicado em 11 fev 2017, 10h00

Eu estava em Lisboa quando recebi a notícia de que a MPB FM havia acabado. Mal pude acreditar.

Passeando pelas belas ruas da terrinha, entrei numa loja chamada A Vida Portuguesa, dedicada aos produtos locais. Esqueça Amália Rodrigues, Zambujo ou Carminho. Quem entoava trinados na caixa de som do estabelecimento eram mesmo Marisa Monte e Chico Buarque.

Ouço rádio no carro e, desde sempre, a MPB FM ocupou o número 1 do meu dial, seguida pela CBN, de notícias. Depois vinham as outras. Ou quase nunca vinham as outras.

Tenho aversão aos quase orgasmos das divas americanas. Elas têm o mau hábito de cantar gemendo, como se estivessem sofrendo de prisão de ventre. Katy Perry e companhia, aquele horror pasteurizado, tão insípido quanto o chamado menu internacional dos restaurantes sem personalidade. E tem também o hip-hop mainstream, que nivela qualquer idioma à mesma ladainha eletrônica, além das chatíssimas Adele, Madonna, Mariah Carey e Beyoncé.

A programação das rádios, com raras exceções, e incluo aí a Roquete Pinto e a JB FM, parece trazer sempre mais do mesmo, talvez por culpa do jabá, não sei. Não conheço como opera a indústria radiofônica, mas a MPB FM era um oásis no meio da mediocridade e fazia jus a um patrimônio cultural concreto, real, que é a música brasileira.

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Falei que ouvi Marisa e Chico numa casa portuguesa, com certeza, mas faz tempo que escuto nossas canções em restaurantes, hotéis, táxis e bares do mundo. David Byrne já declarou o nervosismo de dividir o palco com Caetano. A Itália e a França idolatram Chico. Sinatra amava Tom. Björk adora Elis. Rodrigo Amarante arrebenta em qualquer língua. Camelo e Malu fundaram uma banda no além-mar. Mosquito é filho de Zeca. Mart’nália herdou a Vila de Martinho. Pedro, o talento de Baby e Pepeu. Os Mutantes fazem a cabeça da molecada de 15, assim como Tom Zé e a tropicália. E ainda temos Baden, Yamandu e Morelenbaum, Pretinho, Arnaldo, Alceu e Criolo.

Uma rádio só é pouco; nenhuma, é ultrajante. A Band, que acionou a guilhotina, deveria se mirar no exemplo da Fluminense, que na década de 80 fez diferença, acreditando num improvável B-Rock. Renato Russo, Herbert, Lobão, Cazuza, Titãs, Paralamas, Barão e o Ultraje surfaram nas ondas de uma rádio que estaria fadada ao ostracismo, não fosse a crença no poder da poesia nacional.

Fernando Mansur merece loas por projetos como o Palco MPB. O fim da rádio que tanto fez por músicos e ouvintes vem no embalo brega de políticos do nível de João Doria, dos adoradores de Miami, de Ralph Lauren, desse gosto free shop que domina o planeta. É o pior da globalização.

A Band deveria pensar melhor, voltar atrás, botar a mão na consciência e ampliar o alcance da música popular brasileira, não o contrário. Para os que investem, ouvem e vivem de rádio, fica a chance de jogar no lixo essa programação brega, imbecil e colonizada que domina as rádios para contratar os demitidos da MPB FM. Os órfãos de Mansur aqui estão à espera.

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