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Blog da atriz Fernanda Torres
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Eu

É comum, aos mais ou menos vaidosos, a rotina de se observar no espelho. Buscamos o melhor ângulo, examinamos as dobras, as rugas, o perfil, treinamos poses, atrás de saber como nos veem ou como gostaríamos de ser vistos. Mas um reflexo não é nada quando comparado à estranheza de escutar a própria voz. Conheço […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 17h20 - Publicado em 15 out 2016, 01h00

Isabelle Barreto

É comum, aos mais ou menos vaidosos, a rotina de se observar no espelho. Buscamos o melhor ângulo, examinamos as dobras, as rugas, o perfil, treinamos poses, atrás de saber como nos veem ou como gostaríamos de ser vistos.

Mas um reflexo não é nada quando comparado à estranheza de escutar a própria voz. Conheço poucos, ou talvez ninguém, que se reconheçam ou gostem de se ouvir em uma gravação.

Um ator precisa aprender a se enxergar sem se deprimir. É da profissão. Deve-se aceitar o sorriso, o esgar de dor, o andar, os trejeitos e as imperfeições, sem malícia nem julgamento.

Nunca esqueci da reação de Claudia Abreu depois da primeira sessão de O Que É Isso Companheiro. Quando o filme terminou, perguntei se ela havia gostado e Claudia respondeu que precisava vê-lo de novo, pois não havia conseguido avaliar a fita. Cada vez que entrava em cena, confessou, perdia a noção do todo, emaranhada numa avaliação rigorosa de si mesma.

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Encarar a própria imagem projetada numa tela de cinema é tarefa das mais árduas. Você segue a história, crê no que os colegas dizem, mas basta um close seu, um plano médio que seja, para ser tomado pela descrença. Filme… filme… filme… EU!… filme… filme… EU!… filme… EU!… EU!… EU!…

Estou editando uma série chamada Minha Estupidez para o GNT. Nela, converso com juristas, músicos, escritores, antropólogos. É muito difícil entrevistar alguém, mesmo para falar da ignorância. A conversa depende muito de quem a conduz, e encerrei a série com um respeito redobrado pelos que se dedicam à informação.

Achei melhor não editar o material bruto, pois pressenti que não suportaria me enfrentar sem o escudo de um personagem. Mas, mesmo depois, com os trechos já selecionados, tive ganas de me jogar pela janela.

Descobri que não termino as frases, pergunto sempre em reticências, sem alcançar uma conclusão objetiva. Me tira! Me tira! Pedi. Pior, identifiquei os mesmos vícios na vida cotidiana. Estou sempre olhando para cima, buscando argumentações que não se fecham, e cultivo o enervante hábito de repetir a palavra “assim” como se fosse vírgula. Porque eu… assim… eu sempre pensei… assim… que agora que… assim… É um costume nefasto, tão irritante quanto o “Tá ligado?” da moderna adolescência. Eu fui lá, tá ligado? E disse pra ele, tá ligado?

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São muletas deselegantes de linguagem, que dão tempo ao cérebro de formatar o raciocínio, mas amolam o paciente ouvinte.

Uma das vantagens de ter acesso à edição é poder salvar a própria pele. Salvei-a, sem maiores constrangimentos; mas, no dia a dia, largar as bengalas da fala tem se mostrado uma missão das mais penosas.

Os assins brotam involuntários, como piscadela a cada dez segundos. Mais do que a barriga flácida dos preguiçosos, a olheira funda dos insones ou a voz rouca dos fumantes, eles revelam minha alma que vacila.

Duro espelho.

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