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Rua Nelson Mandela, Botafogo

Inaugurado há pouco mais de dois anos, trecho da Rua Nelson Mandela faz sucesso ao conjugar investimentos públicos com investimentos privados Terreno devolvido à população. Praça da Rua Nelson Mandela, entre as ruas Voluntários da Pátria e São Clemente, foi inaugurada em 2011 após um leilão público.  por Pedro Paulo Bastos Era uma vez rua que não […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 18h57 - Publicado em 19 set 2013, 20h37

Inaugurado há pouco mais de dois anos, trecho da Rua Nelson Mandela faz sucesso ao conjugar investimentos públicos com investimentos privados


Terreno devolvido à população. Praça da Rua Nelson Mandela, entre as ruas Voluntários da Pátria e São Clemente, foi inaugurada em 2011 após um leilão público. 

por Pedro Paulo Bastos

Era uma vez rua que não tinha praça, calçada, tráfego de automóveis, nem árvores e nem comércio. Era uma ruazinha que passou anos inexistente, cercada por tapumes, margeada apenas pelo vaivém frenético de trabalhadores, estudantes e cinéfilos dos cinemas no entorno. Essa é a Rua Nelson Mandela, no bairro de Botafogo, mais especificamente o trecho inaugurado em meados de 2011. Esse terreno, que até então pertencia ao Estado desde as obras do metrô, passou por um leilão público e foi vendido – estima-se que o valor transacionado tenha sido de R$ 8 milhões – a uma construtora e mais dois sócios, que levantaram dois edifícios residenciais cujos térreos foram ocupados rapidamente por empreendimentos comerciais que vêm propagandeando a fama do bairro como pólo de entretenimento naquela região da zona sul.

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Desse modo, o investimento privado juntou-se ao investimento público através da implantação de uma nova via de acesso entre a Rua Voluntários da Pátria e a Rua São Clemente, por onde está passando agora o Metrô (sic) na Superfície vindo da Gávea, além de uma vasta praça ajardinada, pouco arborizada ainda, mas que se integrou bem à dinâmica socioespacial de Botafogo e ao terreno da Unidade de Pronto Atendimento – a UPA – inaugurada em 2008. Mesmo encravada numa área caótica tanto de pedestres apressados como de automóveis ruidosos, a praça da Rua Nelson Mandela devolveu à população um pouco de “ar”, além dum espaço genuinamente público que revitalizou um terreno inutilizado havia anos em meio a um ambiente urbano pra lá de mercantilizado.

No entanto, ainda são os investimentos privados que dão o toque notório de “revitalização” da rua. Basta o sol se pôr para que mesas e cadeiras dominem as calçadas da Rua Nelson Mandela, comprovando a ideia de que ela virou sinônimo de happy hour e, por conseguinte, de consumo direcionado a um público de bom poder aquisitivo na faixa dos 20 aos 40 anos de idade. E a praça, que durante o dia é aproveitada por crianças, leitores, idosos e animais domésticos, à noite torna-se uma extensão geográfica do público que interage com esses bares, mas que, não necessariamente, é consumidor dos mesmos. Ou seja, os bares ao longo da Rua Nelson Mandela concentram um público consumidor que igualmente atrai outro público disposto a “usufruir” a estrutura da praça sem que, para isso, tenha de ser um cliente.


Mais da praça.
Palmeiras, ainda incapazes de fornecer sombra, além de uma academia para a terceira idade, brinquedos, mesas e bancos acimentados.

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Verticalização.
O entorno da praça, já bastante verticalizado antes da inauguração do espaço, tornou-se ainda mais atrativo para o setor imobiliário.


Vida noturna.
Os empreendimentos comerciais da Rua Nelson Mandela, que se enchem de clientes nos happy hours e nas noites dos finais de semana.

Fenômenos como esse são encontrados em outras partes boêmias da cidade, como a Praça Santos Dumont – mais conhecida como Baixo Gávea –, as praças da Lapa nos finais de semana, a Praça Varnhagen et cetera. Ainda que a minha expedição fotográfica não tenha contemplado a dinâmica notívaga da Rua Nelson Mandela, é curioso observar que, tão logo foi inaugurada, e a sua identidade territorial – grosso modo – já foi moldada rapidamente através da gentrificação proporcionada pelos bares da moda e dos cinemas alternativos localizados a poucos metros de lá, na Rua Voluntários da Pátria.

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Esse caso específico da Rua Nelson Mandela me faz refletir uma série de questões sobre esse processo de “revitalização” urbana, hoje em dia muito mais atrelada à interação dos aparatos privados culturais e de consumo com o espaço urbano do que com a atuação exclusiva do Estado em proporcionar melhores condições de lazer e de qualidade de vida no espaço público. Faço essa pontuação por ter percebido, por exemplo, que a mídia e as pessoas habituadas a passearem por lá não atribuem a “revitalização” da Nelson Mandela ao projeto urbanístico – e muito bonito, aliás – para a praça, que se transformou num oásis entre as ilhas de calor de Botafogo.

As pessoas enxergam os bares e restaurantes como uma mola propulsora ao “desenvolvimento” e à ocupação da rua, ao “aquecimento” da economia do bairro. E, sem dúvida, essa percepção é compreensível, já que o aparato público no Rio é deficiente e vulnerável. Não cabe ao As Ruas do Rio querer desvendar cientificamente as contradições desse modelo de rua revitalizada, até porque, apesar deste autor que vos escreve não morar no bairro de Botafogo, sou um dos que, vez ou outra, estaciona o traseiro nas cadeiras do Colarinho para tomar uma cerveja, feliz da vida, com os amigos. Não invalido esse modelo, embora me sinta instigado.

Botafogo está no centro de uma região agraciada por um marketing urbano que vende uma imagem de cidade mui sedutora para negócios e empreendimentos “promissores”, isto é, que se alimentam da dinamicidade econômica dos bairros ricos do Rio. Assim, sendo a iniciativa privada, hoje, a que colabora expressivamente com a “revitalização” de espaços urbanos – sobretudo no que se refere aos estabelecimentos gastronômicos e culturais –, olho, preocupado, para os bairros que não são economicamente atrativos para a iniciativa privada cujos quais dependem, unicamente, da precária intervenção municipal para que tenham um pouquinho de brilho, brilho esse que se apaga rapidamente haja vista o falho poder persuasivo dos aparatos públicos em “seduzir” as pessoas a desfrutar e cuidar mais do espaço público sem fins comerciais ou publicitários por trás disso.

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A funcionalidade das praças mudou, assim como os hábitos e demandas das pessoas, mas a cidade estar se convertendo em uma mercadoria, isso é lamentável.  

Observação: em alguns momentos coloquei a expressão revitalização entre aspas, pois tende-se a acreditar que um espaço urbano somente é “revitalizado” quando este se remodela de acordo com as expectativas e demandas das classes sociais mais favorecidas. É uma percepção minha, e por não concordar integralmente com essa ideia, fiz uso das aspas quando julguei necessário.

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