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O Mito da Caverna: que mensagem Mandetta quis passar ao citar Platão?

PhD em Comunicação e Cultura, Ieda Tucherman analisa a fala do ministro; para ela, discurso ironiza a atuação de Bolsonaro à frente da crise na saúde

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 7 abr 2020, 20h27 - Publicado em 7 abr 2020, 15h24

No ‘Dia do Fico’ de Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Saúde recorreu à filosofia para anunciar sua permanência na pasta – e aproveitou para dar mais uma estocada em Jair Bolsonaro. Ao afirmar que, no fim de semana, releu (e mais uma vez, tentou  compreender) o “Mito da Caverna”, ou a “Alegoria da Caverna”, o ministro mandou um recado ao presidente. PhD em Comunicação e Cultura e professora da Escola de Comunicação da UFRJ, Ieda Tucherman escreveu especialmente para VEJA RIO sobre a metáfora de Platão, da obra “A República”, e seu uso no discurso de Mandetta. Leia abaixo:

O que, afinal, fazia a Alegoria da Caverna de Platão, parte do seu livro A República, na entrevista de ontem do ministro Mandetta? Note-se que ele afirmou que o leu pela primeira vez com 14 anos e o releu mais de 20 vezes e ainda não entendeu. Uma interpretação apressada diria que, como sempre, cientistas e técnicos não dão conta dos raciocínios filosóficos, o que é um engano e um engodo tanto para a ciência como para a filosofia. Outra interpretação, que eu proponho, é bem diferente: sutileza. Podemos acrescentar ironia, que tem a mesma orientação.

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Vejamos: num dia que alguns chamaram de Dia do Fico, numa alusão ao ‘Fico’ do imperador Pedro I , quando este rompeu com o reino de Portugal (portanto, como um cenário de rebelião contra a autoridade), Mandetta, de dentro do seu ministério e não no Palácio do Planalto, vestido com o uniforme do SUS e não com o figurino terno e gravata, a alegoria completou o recado e ilustrou uma tomada de posição que, infelizmente, temo que não fique sem resposta.

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No Mito ou Alegoria da Caverna, Platão, no seu texto mais imediatamente político-pedagógico, fala de uma situação em que prisioneiros estão acorrentados, posicionados em frente à parede da caverna e só podem ver os vultos e as sombras do que acontece no mundo de fora. Certamente podemos dizer que os grilhões destes presos eram a ignorância dos que não se sabem ignorantes, aquela que permite aos fanáticos acreditar em verdades absolutamente não verificáveis. Entretanto, um homem, o filósofo, consegue se libertar e, saindo à luz do dia, percebe que a realidade e a verdade estão do lado de fora da caverna, à luz do sol.

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O que o define é a pertinência ao grupo que pratica a dúvida, e neste sentido, não se convence com nenhuma explicação baseada na crença. Neo, o personagem do filme “Matrix”, dos irmãos Wachowski, na sua busca constante pela verdade, é inspirado neste texto. Voltando à pergunta: O que faz Mandetta citar o Mito da Caverna? Ele contrapõe o argumento que a faz ser transformadora: ter a coragem de fazer as perguntas e a dedicação de buscar as respostas, à prática de negar a ciência deste governo”.

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