Afonso Tostes
Resenha por Rafael Teixeira
Dedicado nos últimos anos à exibição de seu trabalho escultórico, o artista mineiro retoma os pincéis nesta bela individual. Batizada Das Amarras, a mostra reúne doze trabalhos produzidos neste ano e inspirados na Odisseia, poema épico de Homero — mais especificamente em Telemaquia, conjunto dos primeiros quatro cantos da obra, que narra a volta do herói Odisseu para casa, depois de lutar na Guerra de Troia. Nesse trecho, Telêmaco, o filho do protagonista, suspeitando que o pai esteja vivo, sai à procura de pistas sobre seu paradeiro. Vestígios, de certa forma, não faltam nas criações de Tostes. Nelas, o artista combina óleos sobre tela com objetos encontrados por ele em passeios na Praia de Grumari, na Zona Oeste. São pedras, tocos de madeira, partes de barcos, redes de pesca, galhos, fios de cobre, ossos e penas de animais que, quase sempre suspensos por linhas, se interpõem entre as pinturas predominantemente azuis, evocativas do céu e do mar. Na mais impactante de todas, um pedaço de embarcação de 3 metros de comprimento por 1,30 metro de altura, com uma corda dependurada e um osso de baleia suspenso, parece condensar o espírito da mostra.